sábado, 24 de dezembro de 2011

124 do homem e das coisas


A música continuava. Apesar dessas intensas melodias há muito tempo que se dedicava a encontrar o silêncio perfeito. Ela podia vir dos gemidos de Flor enquanto faziam amor ou ainda do famoso bater de asas de uma borboleta que depois podia provocar um terramoto. Contraditório? Claro que sim, nem de outra forma podia ser, porque o silêncio absoluto só estava no desconhecido e possivelmente mesmo ele estava prestes a deixar de o ser.

A sua cara, a cada dia menos disponível para os sorrisos de pacotilha, contorcia-se em risadas teatrais de coisas que até tinham piada mesmo que depois nem retirasse qualquer tipo de sumo útil para a sua sobrevivência.

Era parte do seu ser de pés assentes no chão encontrar a melhor maneira de se libertar do jugo tirano da estupidez entranhada nos outros, incentivada como coisa normal por eles, depois feita lei por seres que já haviam sido promovidos a algo pior e mais perigoso que obtuso.

Lembrava-se da porta que chacinada em pleno verso, com uma rima em riste pelo cu acima, solução que sempre arranjava na outra dimensão quando concluía que algo devia desaparecer do mapa.

Do homem tinha muito que dizer, nem sempre lhe agradava saber do Apocalipse para alguns se verem livres dos dispensáveis, mas das pequenas coisas quotidianas sentia sempre mais a falta. Não pode deixar de aplaudir a criação de mecanismos de defesa da Mãe Natureza por estados ditos inferiores. Sentiu força e vida nesses estímulos e mudou a sua forma de agir perante a aridez de ideias das pessoas que nunca tinham tempo para nada, que nem se lhe dirigiam como se ele fosse um ser normal.

Às vezes ia de propósito para a beira de um qualquer abismo e nunca tinha a coragem de rebelar-se contra o seu destino. Do outro lado anjos e demónios dançavam entrelaçados sem acentuar as diferenças irreconciliáveis. Era-lhes indiferente o destino dos homens modernos, apenas queriam divertir-se destruindo tudo, pondo tudo contra todos, culpando a inteligência de uns pelo fracasso de quase todos.

Os dias eram duros apesar de ter tudo, os pecados chegavam-lhe com a urgência com que necessitava de oxigénio e nada disso era compensado com qualquer um dos poderes revelados.

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