Enquanto o desejo condicionava a
atenção necessária, as fronteiras entre mundos esbatiam-se. Do natural nada
vieram sons do mais estranho que se possa imaginar. Eugene Chadburn dava um
concerto num estádio de futebol, repleto de assistência em delírio silencioso.
Era importante captar o sentido posto naquela aparente anarquia de sons. Junto
a si, num palco repleto de balões cheios de água com os quais seviciava a
guitarra, o povo delirava, em absoluta imobilidade, pedindo por telepatia a
presença de John Zorn para compor o devido ramalhete sónico. Era de tal forma
experimental que, depois, o próprio se esquecia como imitar. Era neste ponto
fundamental que os peregrinos agiam, a memória da liberdade mantinha-se,
gravando o improviso, sem as preocupações com a possível conotação negativa dos
menos entendidos.
Num breve instante de
desencontros de horários, ou, ainda, de dessincronização entre o que se deve
fazer, pela posição do ser humano e o que o coração manda fazer.
Assim, sem mais nem menos, outros
génios assaltavam a indiferença das pessoas, inflacionando o ego de quem se
aproximava do seu sentido espácio-temporal. Fosse em salas escuras com
meia-dúzia de lunáticos privilegiados ou em espaços abertos à multidão
anestesiada, tipos como Mozart ou Vivaldi passavam a alma das suas partituras
para o corpo de compositores obscuros que iluminavam o mundo destruindo
iluminatis.
Na breve história da humanidade
finalmente havia tempo para ofuscar a opressão, a opressão, a ignorância em que
eram mantidas as pessoas, subjugadas a gostos escravizantes, aniquiladas no
mais básico amor-próprio.
As mãos de António Pinho-Vargas,
juntavam-se às de Jimi Hendrix e a estranha junção de sons afastava os demónios
das constelações mais próximas do Planeta Terra.
As mãos de Picasso juntavam-se ao
piano embriagado de Tom Waits e as notas de destruição, ciclicamente revistas, foram
destroçadas.
A cura para os males da
humanidade já não eram apenas exclusivo dos grandes senhores da finança
americana. O cancro e as suas metástases estavam bem identificados e seria
Arturo quem, no meio, exactamente no meio do hino do Burkina Faso soltaria o
grito dilacerante que afastaria de vez a falta de compreensão das pessoas em
relação aos males infligidos por alguns para desproveito de quase todos.
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