No dia da grande mudança deu-se
uma crise violentíssima de ciúmes entre Arturo e Flor. Não era negócio de Deus
ou artimanha de Lúcifer, apenas a estúpida sensação de andar com um valente par
de cornos entre Universos. Foi assim que se provocou a fractura decisiva entre
génios especiais que se amavam até à morte se fosse necessário. Só que nessa
noite não houve desejo, apenas a explosão a que nunca se deu a devida atenção
apesar dos sinais. Dir-se-ia que felizmente amuaram e que nenhum dos outros 70
teve parte activa na convulsão irreversível que encostou os princípios
adquiridos e consolidados ao longo de séculos, a um abismo em que piranhas
ávidas de destruição, esperavam pela sucinta estupidez dos que iam ser
aniquilados.
Flor assoberbou-se no auge da
madrugada, as lágrimas que verteu eram de fúria pura e os maremotos
sucederam-se, as vagas gigantes irromperam imponentes no Pacífico, enquanto
Arturo pagava a sua louca crise de ciúmes abrindo crateras onde caía
consecutivamente até um dos Infernos onde amiúde ia. A busca pela ansiedade
serenidade ficaria para os dias mais alegres, era antes tempo de definir o que
mais interessava e isso implicava uma antipatia que desesperava quem
necessitava de resultados a modos que instantâneos.
A convulsão deu-se às 3 da
madrugada. Os deuses sem imortalidade e os demónios sem maldição foram sendo
engolidos pela sua própria insignificância. Os silêncios deixavam de ser
ensurdecedores e os autos-de-fé sucessivos iam apagando o desgosto crescente da
Mãe Natureza, assim feminina, personificada em Flor.
Evaporara-se a existência sem
alarido de muitos zombies com uma ventania de ar sujo nas suas cabeças mais ou
menos bonitas. A merda das aparências, do fluxo de alarvidades tidos como coisa
normal, fora-se. Se era em definitivo, é provável que não, que o simples facto
de se ser humano era sempre um potencial atentado àquilo que o rodeia, seja
fundado ou não, seja pelos malditos ciúmes ou apenas pela sempre normal inveja
do sucesso alheio.
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