Porém algo mais profundo se passava no cemitério de uma pequena cidade no nordeste de Espanha. O caminho era feito sempre em subida íngreme sendo os esquilos, habitantes dos pinheiros a salvo de incêndios, presença assídua na vigília dos que pudessem perturbar a natural decomposição de seres feitos para ninguém mais se lembrar deles.
Era usual ver-se caravanas de almas em sofrimento pela perda de algum corpo querido e escutar-se os esquilos de olhos bem abertos a perscrutar tudo com a máxima atenção. Chegados lá acima, do lado direito, havia uma porção relativamente grande de ervas daninhas que destoavam da paisagem geral. Mas foi durante o silêncio sepulcral da noite que se deu um fenómeno bizarro que provocou a morte de quase todos os esquilos. Para quem tivesse poderes extra-sensoriais era fácil adivinhar a presença de um qualquer demónio. Assim foi e era o tempo de Mortuivel se manifestar, renascendo por meio da fraqueza dos vivos perante almas em transição.
De início não se deu pela falta dos pequenos animais, a fonte de equilíbrio entre as almas que ainda podiam ser purificadas e as danadas pela eternidade, por natureza corrompíveis sempre que alguma situação o justificasse.
Sendo um caso único em que se dava a guarda do portal das almas em transição a pequenos animais como esquilo, tornava-se estranha a intromissão de Mortuivel, causando o caos sem que as forças opostas, devidamente avisadas, fizessem algo que impedisse o crescimento desta força destruidora invisível..
Ao primeiro raio de Sol estava preparado para receber o seu primeiro hospedeiro, sendo a alma do coveiro a eleita. Sendo um senhor de provecta idade, era casado com uma professora reformada, mas ainda influente no pequeno meio em que vivia o que lhe agradou ainda mais.
Mortuivel passou rapidamente a sua energia negra e destrutiva para a dita senhora que mantinha uma amizade intima com a sogra do presidente da câmara. A dita amiga mantinha uma escaldante relação sexual com o genro, sendo a forma perfeita de atingir os fins a que estava destinado por Lúcifer.
A primeira medida a ser aprovada seria um projecto-lei em que ficasse estabelecida a expulsão imediata de todos os estrangeiros sem situação legalizada. Tal medida foi aprovada em tempo recorde, provocando uma onda de indignação em todo o país, passando a especular-se sobre os motivos profundamente racistas da mesma. O facto de a repressão recair sobre quinze mil muçulmanos provocou uma onda de atentados que lançou o caos na comunidade há longo tempo a reclamar a independência. O sangue jorrava de novo e em abundância, provocando divisões irreconciliáveis entre defensores de direitos humanos e nacionalistas radicais.
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