Em nome da sagrada loucura saíram todos os crentes num mundo livre de conceitos a uma rua obscura porventura cheia dos demónios que urgia defrontar. Assim nasceu um movimento espontâneo em que se tornou o líder espiritual, assim designado pelo grande mestre do eterno desassossego, livre das grilhetas da imbecilidade reinante desde tempos imemoriais.
Depressa se fez sentir a repressão contra o crescente clima de optimismo, lucros exageradamente altos de gente anti-sistema, reprodução de uma nova bíblia devidamente financiada por esses mesmos novos ricos, em delirante crescimento.
Sem se saber bem porquê, apenas com a paranóia instalada, referendou-se o sim à pena de morte em praça pública com posterior transmissão televisiva em horário nobre.
Ao mesmo tempo que espalhavam a loucura da vontade própria iam desacreditando, um por um, todos os opositores às aspirações de uma vida normal, sem o fardo pesado do trabalho por conta de outrem e da sua função financiadora do lazer pecaminoso da ladroagem directiva. As baixas tornavam-se evidentes nos dois lados e apenas proporcionou o aparecimento de líderes ainda mais esquizofrénicos que os do costume, o que não era, de todo, o objectivo pretendido.
E ele seguia tranquilo na sua nova missão de desconhecido líder de uma nova ordem universal que tinha firmes opositores vindos das profundezas do Inferno para atormentar as almas opositoras dos desígnios previsíveis de Lúcifer.
Tranquilidade, assim vinda do nada era o melhor e mais eficaz antídoto para as calamidades que se multiplicavam a um ritmo cada vez mais alucinado.
Vivia então na fronteira da insanidade mental, rodeado de seres abjectos, cegados pela ira que lhes era injectada directamente na alma e expirada em corpos degradantes, provocando rápido contágio por cada átomo correspondente que os cercava. Era inevitável uma qualquer brecha no espaço que dividia os mundos paralelos, tanto os corpóreos como os outros que tinham os mais variados tipos de versões segundo aquilo em que alguns achavam que todos deviam acreditar.
No meio dos peregrinos da sagrada loucura, algo de estranho se passava, como se devessem prestar súbita vassalagem a algum anjo orientador. Porém era inviável o sentimento de submissão num dos abençoados loucos, que agia com distinta anormalidade dos demais.
Dizia a profecia do quinto patamar do cofre dourado que um demónio continha no sangue do seu receptáculo carnal o código que permitiria o acesso ao sexto e penúltimo patamar do objecto que alteraria para sempre o destino da humanidade. Todos o negavam, cada vez com mais veemência e a cada mentira que crescia Deniel aumentava o seu poder terreno, disfarçado de peregrino.
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