segunda-feira, 15 de agosto de 2011

099 derradeiro beijo

Os fantasmas iam sendo expostos um a um consoante se aproximavam mais os índices do Apocalipse descritos nos livros. As almas penadas procuravam o melhor lugar para assistir à entrada das suas mais recentes congéneres. O desprezo ou a mais distinta crueldade seria a maneira como as receberiam.

Arturo apenas buscava o corpo de Flor para se saciar dos males da humanidade e expurgar todos os sentimentos negativos que pudesse ter dentro de si. Ele não sabia, mas debelar os males dos outros significava, muitas vezes, absorver toda essa carga destruídora que levava ao fim, mas não o do mundo que se regeneraria ainda com maior fulgor.

Tinham pouca privacidade e os olhares reprovadores de pessoas apenas preocupadas com os seus feitos de finitas virtudes. Essa exposição afectava sobretudo Arturo, que se deixava dominar por um estado de ansiedade que em tempos o fizera abandonar-se à loucura, deixando-a com a ajuda de anti-depressivos. Como era homem de paciência e voluntarioso, deixou-se abater por traições perpretadas por seres amados.

Não gostava das despedidas e por isso, pouco a pouco foi riscando do seu léxico a palavra perdão. Se alguém se quisesse suicidar que fosse digno o suficiente para não o intrometer nessas alhadas em que a parca utilização das funções cerebrais leva a melhor sobre as imensas capacidades de explorar novos horizontes. Bastava apenas ser mais egoísta e esquecer a pequenez de alguns propósitos menos claros que apenas embruteciam a mente.

Os momentos de amor carnal com a sua namorada eram os mais festejados no meio das conjuras e maus-olhados que lhes lançavam. O efeito seria apenas um instante porque o voo a que os dois estavam destinados não se comprazia com esses seres que nem para o lado sabem olhar, guardando as suas energias em fúteis tentações divinas, que, por isso mesmo, não chegariam a mais nenhum lado senão ao medo, à aniquilação pela ignorância, o tal Apocalipse em cujo anfi-teatro já se encontravam todas as curas e maleitas inventadas e posteriormente assoberbadas pelo ser humano, quase nunca ávido de viver sem ser a prejudicar o próximo.

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