Os momentos da mais terna alegria passavam-se nos dias em que, mero humano, podia beijar Flor na sua forma despojada da grandeza dos mitos. É certo que era fácil ser interrompido por alguma das filhas, sobretudo a pequenita Mary, sobrepondo-se um natural pudor para algo que não queriam que ela imitasse. Ainda era mais retemperador sentir-lhe aqueles pequenos pedaços de paraíso que só uma mulher como ela podia oferecer, entre sessões de ciúme e sedução selvagem que tendiam sempre a terminar em criativas sessões de sexo, sempre com algum grau de preocupação por não estarem sózinhos.
A alegria era real motivo de inveja, já nem os que passavam fome se contentavam com o seu pão gasto e bolorento, antes lhes agradava mais invejar o pão de vários dias mas ainda sem a cor característica do bolor do vizinho a quem sorriam. Digladiavam-se as consciências por nada, como se o nada fosse a real solução dos problemas das suas cabeças de ínfima capacidade intelectual.
Flor apenas pensava numa maneira de realizar os sonhos das suas filhas, já adolescentes, porém crianças sem o verdadeiro sentido da realidade, pelo que viviam num reino encantado de fantasia, a possível, sempre destroçada pelas confusões geradas pelos adultos que as rodeavam.
Mas a causa era sempre mais forte, esse empecilho de ter de ser ele a acabar com os males do mundo, aos poucos, com a ajuda de mais 71, nem sempre bem preparados, às vezes sem sequer saber o que fazer junto de um mestre que nem sempre respeitavam como tal. Porém, na junção de todos os fluídos vitais desencarcerados de almas perdidas, estava uma parte do segredo. Qual segredo? Em estações antigas, programando frio e calor, seria possível uma surpresa. Assim , à beira de um colapso, o mundo não tinha tempo para absorver as mudanças incutidas pelos Peregrinos da Sagrada Loucura.
Outra parte do propalado segredo era o abandono ao sexo desenfreado pelos peregrinos adultos. Livres de maldições ou bruxarias entregavam os corpos sedentos em plena terra com aroma a chuva recente. E gritavam, tão alto e tão desvairadamente que as entranhas da Terra entravam numa estranha convulsão.
Era bonito de se sentir assim o amor, a contemplação das artes divinas em meros mortais, de repente elevados a salvadores do que não tinha salvação.
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