segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

050 país de exílio

Se por acaso tivesse de voltar ao seu país, abdicando das conquistas efémeras ia ver apenas um futuro negro à sua frente, como se fosse uma doença e à sua espera estivesse o vírus da recaída. Não que vivesse no paraíso mas à medida que iam passando os dias sentia menos necessidade de voltar àquele modo de vida sem sabor e às pessoas que tinham pena da sua condição por detrás de um sorriso de circunstância. Aquilo que havia sido a fuga ao Inferno sem chamas estava de novo a transformar-se no regresso, como se fosse uma sina viver entre batalhas do que não gostava, nem sequer fazendo um pequeno esforço.

A relação com a namorada esfriara um pouco apesar dos intensos calores por quase nada. E voltando à estaca zero, nem calores nem frio, apenas um vazio que não deixaria ninguém preencher.

Era tempo de colocar-se de frente para a montanha, mesmo sem frio ou nuvens carregadas de desespero, apenas uma vista para o desejo de alcançar o topo do seu próprio mundo. Conseguia um sorriso e uma certa dose de alívio quando colocava o pensamento positivo e alguma resignação à frente do destino e das costumeiras fatalidades.

Agora que olhava para o Céu e já não se desgastava com as cinzas de fracassos passados, sempre podia ir de encontro ao ansiado momento de felicidade em que ela se acercou do seu corpo suado e o beijou com um amor desmedido. Nem parecia o primeiro beijo de alguém novo na sua vida, apenas a noção de que as suas reticências à permanência no país de exílio estava plenamente justificada com a simples existência daquele ser de uma generosidade sem limites.

Foi através dela que tomou contacto com um habitante da terra que lhe deu as notícias acerca do seu envolvimento na guerra que se travaria no anunciado Apocalipse. Pouco dado a especulações e a retratos dramáticos da sua própria pessoa, começou a ser tomado de assalto por pesadelos ainda mais envolventes que a sua vida de carne e osso. Afinal a sua deslocação não era fruto do acaso, bem como a progressiva surdez, presente na definição do seu carácter, primeiramente introvertido e depois cada vez mais anti-social.

Apesar de tudo dava-se ao natural trabalho de dar todo o conforto possível às filhas dela, em profunda revolução hormonal.

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