domingo, 3 de julho de 2011

085 incalculável frescura

Quando se toma consciência das vontades, do caminho que se percorre e da necessidade de acreditar que para além dos fatalismos que nos impingem, torna-se mais fácil aceitar uma derrota, apenas e só porque faz parte do processo e não é o processo em si. E se for também não há problema, sempre se pode atravessar o oceano montado num habitante de Sírius, um golfinho, para os menos versados nestas coisas.

As marés e as desgraças far-se-ão sentir, mas a força de vontade suplanta todos os deuses e diabos que apenas nos tolhem o espírito.

É imperioso tomar essa consciência quanto antes ou o egoísmo latente na cabeça de cada um estender-se-á aos corpos vazios de sentido, tornando o penoso arrastar da indiferença pelo que se passa à sua volta, um mero caminho que não se pode evitar.

Passou-se muito tempo desde que Arturo começou a ter as triviais dores de cabeça e que Flor mudava o mundo apenas com o seu sorriso contagiante. Como em todos os processos de mudança, há dores que nascem, são reinventadas enquanto vivem, apagadas mesmo antes de morrerem, as da alma claro está. É curioso que a lembrança das energias positivas que prolongam o bem-estar tendem mais facilmente a ser esquecidas.

Ambos cresceram mesmo que as aparências se mantenham. Ambos subiram aos Céus e passaram as necessárias eternidades no Inferno. No final empenharam-se na indiferença da guerra entre o bem e o mal e foram acusados de loucos, lançados para um hospício onde se pretendia que morresse a memória que se pudesse ter deles.

A vida nem sempre é como nos querem impingir, nem para o melhor, nem para o pior e as centelhas de vida dos que se foram cruzando com eles, injectaram uma frescura intensa na metódica batida do coração de cada um. Os olhos passaram a brilhar, mesmo que por vezes fossem implacáveis com os males da sociedade.

Em nome da obliteração dessa incalculável frescura foi-lhes montada uma cilada, por Deus e por Lúcifer. A Luz e as Trevas fez parar o tempo, com a singular excepção do sítio onde os átomos de Arturo e Flor se juntavam formando os seus celestiais corpos.

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