domingo, 3 de julho de 2011

084 Claro é o pensamento

Deixe o passado no seu canto, urna aberta para revisitar velhas glórias, mas alimento-me do presente que a minha tem sido, um verdadeiro corropio de ausências, prepotências e poucas intenções verdadeiramente genuínas de ajuda alheia.

Disse ao vento que me safava sem o erário de ninguém e parece que a malta levou isso a sério. Não me magoa senti-lo, até constato que vivo melhor das minhas capacidades que me estimulam, que a viver, quer a desintegrar-me, do que viveria se estivesse sob o jugo de alguém, anjo ou tirano.

Tenho costume de mudar de mundo enquanto os olhos se fecham e depois de abrem, não é que o peça, mas apareceu-me este dom enquanto dormia, na minha cama grande, sozinho, apesar da doce Flor, que de há uns tempos para cá acompanha de forma activa as minhas ditosas desventuras.

Nem pensem que tenho alguma carta para dar novas ao mundo. Não, apenas vivo no meio das bruxas que protegem e me aconselham nos precipícios que vão dar ao primeiro fosso do Inferno. Às vezes chego mesmo a cair, apesar de ver sempre as mesmas coisas e de sentir uma estranha cumplicidade com as pessoas que ocupam os espaços perto dessas coisas. Mas sigo, talvez sem saber que se quisesse podia voar. Mas detenho-me no caminhar, nas ânsias e nas saudades de Flor e das suas quatro filhas. Afinal o único conselho que recebo das bruxas é para me manter na corda bamba e afastar-me desse amor, algo que nunca se instalará. Que vão para a puta que as pariu! Tudo menos a solidão.

Pensar que um dia sonhava ser possível aceder a uma vida normal sem arriscar tudo num possível buraco negro e, no entanto, aqui estou, à beira de uma loucura saudável que me levará ao mundo encantado das dificuldades ultrapassadas com um sorriso, mesmo que depois voltem furiosas e vingativas.

O mundo desencantado da segurança até podia segurá-lo e cantar vitórias aos filhos da puta que me perseguem na mediocridade, porém prefiro acreditar que aqueles sonhos de itnensa realidade podem mesmo ser o ínicio de qualquer coisa profunda.

Entretanto o frio voltou, os alarmes da ourivesaria, ao fundo da rua, tocaram. Apetece-me beber um whisky e um café sem açúcar. Para completar este momento de felicidade basta um abraço de Flor quando estiver a entrar em casa.

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