quarta-feira, 31 de março de 2010

002 Outubro de silêncio

Uns tempos antes da viagem havia passado por uma experiência traumatizante, não que o seu corpo tivesse sido afectado, apenas a alma se afastou em definitivo da inocência que o habitara tantos anos seguidos.

A paga pela insolência que fora a sua adolescência prolongada, por anos a mais e convivência positiva a menos, era sobrevalorizada com as consequências de um acidente propositado. Uma amiga sua que tentava desistir de um caminho repleto das trevas que levam a tentar o fim.

O silêncio prevaleceu pelo bom senso de dizer que o amor que se sentia era algo que transmitia muita paz. Mas as vozes incessantes que ecoavam pelas profundezas da alma faziam como que renascer algo, como se estivesse comprovado aquele estudo encomendado que falava de vidas anteriores em que ambos viveram um amor brutalmente interrompido.

O amor era uma espécie de doença que as primeiras águas de Outubro apenas acentuavam, juntando os desgostos à dilacerada tentação de modificar o que devia ser espontâneo. Era tudo um mero pesadelo vivido na possibilidade de abraçar a morte, apenas e só para que algum sentido pudesse ter sido dado à frustração criada por uma separação incompreendida.

E quando à hora de almoço se substítuiram os telefonemas ameaçadores pelos efeitos dos anti-depressivos despertou a vontade definitiva de continuar a viver até chegar às cortinas vermelhas. Depois se veria o que estava reservado para o corpo.

E é fácil acreditar nos gritos de paz que renasceram em Abril, quando no lado oposto do horóscopo se afundava a líbido e deus seguia no seu silêncio costumeiro, apesar das trevas e das ajudas ostracizadas. Era tempo de abordar as colmeias de outra maneira sem que as abelhas residentes nos atacassem pela incúria.

Porém ele tomava consciência que, a possibilidade do nada e o enterro oficial de sentimentos que teimam em eternizar-se, seria o principio de um novo deserto em que reencontraria o amor como uma mera Fata Morgana, apesar da vontade da alma e do desinteresse inexplicável do corpo pelos divinos e pecaminosos prazeres da carne. Nem a outrora eficaz masturbação que lhe dava maior vontade de fornicar servia como encontro com uma paz e satisfação que mais não eram que as razões que lhe não permitiam sequer pensar em castigar o corpo de forma a que a morte antecipe o seu predestinado caminho por um Outubro de folhas caídas.

2 comentários:

  1. parabens!!!ja tinha saudades suaa..grande ausencia!!!1 abraço

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  2. olá maria tereza! é sempre um prazer poder contar contigo! espero que esteja tudo bem por aí, algum ânimo, e muita pintura que é algo que te solta a alma.

    obrigado pela visita espero que não seja a última que tenho muito para pôr por aqui!

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