segunda-feira, 16 de agosto de 2010

033 as viagens sem chegada

Porém o desejo de transgressão evoluía muito para além da simples aritmética originada das falsificações por si perpetradas, como se não tivesse medo de ser apanhado e conotado com alguma minoria sempre presente nos manuais de bem roubar sem depressa ser apanhado.

Eram puros delírios os momentos em que se dedicara a cozinhar uma vida simples contemplada no final com um  caixão sem qualquer motivo indicador de glória ou regresso à vida. Tratavam-se de viagens sem chegada, em que a vida se transformava num joguete em que eram descurados cuidados primários como evitar aquelas doenças das estatísticas. Apetecia corromper aquele desejo de nada, e era fácil quando alguém lhe manifestava a beleza da vida, tornava-se então evidente que tinha que adiar esse momento radical, que seguramente mudaria todas a relações que mantinha por esse mundo fora.

A porta da rua estava frequentemente aberta e com rara estranheza não lhe roubavam nada, nem sequer lhe destruíam a harmonia caótica com que sobrevivia aos dias mais cinzentos que lhe trespassavam os olhos em direcção à alma.

Ao mesmo tempo o telefone não parava de tocar, chovendo os convites de naturezas opostas apesar da característica única que os acompanhava, uma viagem sem regresso à monotonia anterior. Claro que a sua frontalidade facilmente desmoralizava qualquer tentativa de reaproximação ao objectivo final. Ainda assim dava resposta positiva aos que tinham a paciência de pedir uma segunda vez. 

Foi num desses encontros triviais que tomou conhecimento com uma vida alterada por circunstâncias algo caricatas. Cedo se interessou pela possível desgraça, mas igualmente tornou-se um aluno notável em técnicas de venda de almas, sem que a vítima sentisse sequer ter capacidade de contrariar essa cabala movida pela pura maldade.

O resultado final levou à aproximação de demónios relativamente poderosos, das suas imensas aptidões como pirata de almas absolutamente virgens da maldade que permitia alimentar-lhes o poder, transformando-as em aprendizes de demónio, sofrendo as mais atrozes torturas que, segundo a hipotética lenda, podiam levar à dor eterna, sem que fosse permitida qualquer intervenção apaziguadora.

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