quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

123 o exercício do amor


Sempre as mesmas pessoas, poses e finalidades. Já todos sabiam quem mandava, já todos tinham a consciência que nada podia mudar sem uma adequada conjugação de esforços.

Um dia, em plena Primavera, numa cidade feia, de obtusas construções e aniquiladas aspirações passou-lhe a vontade de atravessar a montanha, de voar até às paredes que antecediam o Infinito e ainda de zelar pela vontade própria de cada um. Via-se como um embuste, quase apátrida, rodeado por uma imensa minoria de iluminados que talvez nem se dessem conta da bravura presente em cada expiração que faziam e que contagiava os demais.

Dos peregrinos, nem sombra, apenas Flor e sua banda colorida de jovens sempre de bem com a vida lhe restavam no horizonte. Claro que o rescaldo não se podia limitar a elas, outros mais entranhavam-se no desejo de construir um castelo sem quartos a mais, uma vida de opulento amor sem que a vista se ofuscasse com desejos fúteis.

Assim tudo era mais difícil, a solidão acercar-se-ia com mais violência e podia ser o que restava no final de cada dia, aumentando esse desespero egoísta até aos antigos desejos de suicídio.

Não dormia bem, o amor nem sequer era platónico, os sorrisos mecanizados e ainda por cima dava graças a Deus por trabalhar na casa de Lúcifer. As ironias eram sujas e a decisão que tomara de parar de fugir podia voltar-se contra si se não soubesse gerir o tempo que lhe restava.

Uma melodia pouco dada a inovação entrava-lhe directamente no cérebro cansado, ela falava de não saber o que era o amor antes de te conhecer, em tom jocoso sem alcançar a via do sorriso multicolorido. Sem ser dado a passos de simples dança, movia as articulações gastas de tanto estalido que lhes oferecia e o amor continuava a ser algo distante, apenas alcançável fechando os olhos para os abrir junto de uma majestosa mulher que combatia as pérfidas tropas do comodismo, da entrega a um destino sem brilho e sem alívio nos sacrifícios.

A vida fugia entre cada movimento respiratório, soubesse ou não o que era o amor antes de a ter conhecido. Mudou então de ideias sem se preocupar com o que pudessem pensar dele.

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