sábado, 24 de dezembro de 2011

125 o tempo dos livros


As manhãs sempre foram algo complicadas, fosse no ar ou no chão, com os amigos ou os ratos do porão. Custava-lhe a abrir a mente para mais do mesmo, quando o Universo era quase infinito e o mundo estava quase a acabar sem que sequer uma ínfima parte dele conhecesse.

Nascido num país de fatalismos exacerbados e baixas por natureza, desencantava-lhe o fado. Aproximava-se mais dos livros e da natureza por eles exalada. Eram os poemas e as histórias fantásticas dos sem-medo que já não existiam, as declamações vibrantes de pessoas que depois se espalhavam ao comprido nas suas opções políticas e um verso sobre janelas de alumínio que o havia feito entrar no mundo ainda mais desencantado de um poeta que usava óculos. Nada de novo, tanta gente usava óculos e era estranha, mas estranho e estranheza maior era o facto de esses tempos de utópica liberdade serem o da disseminação dos livros, dos corruptos e da mentira como escola de vida. Fulminava essa escumalha com os olhos.

Possuídos que estavam por demónios em profusão renasciam com o mesmo aspecto, faziam as mesmas parvoíces e na altura da ajuda ao povo roubado eram considerados habitantes de um país menor que merecia desparecer do mapa. De acordo, pensava Arturo, que nesse cu de uma Europa onde até o seu nome era estrangeiro, assistia à vassalagem surreal dos honestos contra os agiotas.

Então para quê ajudar os outros quando nos esquecemos de o fazer a nós próprios? E pensava ainda mais, que o seu povo devia legislar algo acerca disso, cagar-se para os filhos da puta mandantes da miséria em que transformavam a vida daqueles que eram penalizados a todo o instante com as suas opções egoístas! E acima de tudo lembrar-se que ajudava sempre os outros!Sem dúvida que no pedaço de cu da Europa onde toda a merda saía, os cheiros nauseabundos que vinham desses antros de ingratos era sempre recebido com um sorriso injusto. Quando é que iam parar com essa proverbial simpatia? Para quando proibir a entrada desses senhores que, vivendo numa economia comum, tinham sempre opções particulares? Como peregrino da sagrada loucura tinha o poder de exterminá-los e a seu tempo divertir-se-ia com isso. O Campo Pequeno faria jus ao seu nome com tanto aborto enfiado lá dentro para ser devidamente castigado pela sua incurável imbecilidade.

Entretanto lia algo acerca da segunda guerra mundial do século XX. Fechou os olhos. Quando os reabriu sentiu os orgasmos selvagens de Flor a fluírem de encontro ao seu corpo!

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