quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

122 a vigília do sonhador


Queria apenas a eternidade, asas sem cera nem idade. A bravura de um gavião e apenas se contentava com o nada e sem satisfação.

Infinita tristeza a da manhã perdida, dos desenganos e torpores malignos, olhares vazios em rios secos de vontade. Encostar-se sim, mas a quê? Porque entraria assim dentro dela, em cruzadas de silêncio pouco inocente para emprestar algum refúgio lúgubre e aninhar os sentidos envelhecidos no cansaço sem a braços ou demonização.

Queria apenas a vontade de saber que ela fazia a caminhada da vida, sem perder tempo com despedidas ou visitas surpresa ao Reino de Hades, aprofundando as feridas num buraco de coerência enegrecida. Um entusiasmo frouxo, sem pleonasmos ou pintura aguerrida. Importava-lhe apenas a vida, esquecer aquele agregado de sons a que chamavam música. Apenas o desejo que possa subsistir de uma cruzada comandada pelas batidas metódicas do coração.

Essa coisa de abrir e fechar os olhos, de aparecer nesta e naquela dimensão não passava de mero refúgio para uma incapacidade de aceitar a felicidade possível, como se o horizonte se esgotasse numa mera definição de como as pessoas se deviam comportar na vida curta e sem tempo para outras coisas que não o estabelecido.

Então procurava as rimas junto dos seres que respiravam sonhos, mesmo que depois expirassem qualquer coisa difusa. Não se tratava de aprender a zelar por possíveis avanços na cura para a infelicidade ou para a indiferença perante os sorrisos amarelos, apenas automatizar o desgosto e seguir sem indiferença às surpresas reservadas a quem sabe escapar à infame praga da nação zombie, constituída pelos desempregados da vontade, os que, tendo desistido tentavam infernizar a vida aos que tentavam construir um mundo melhor mesmo que virado para o seu próprio umbigo, que o egoísmo não tinha de ser um defeito mortal.

À volta da provável poesia em crescendo, alguns sons dispersos aninhavam-se constituindo como mensagens subliminares que apenas os 72 podiam captar. Ora juntá-los todos em espaços diminutos era impossível, que a sua massa mesmo incorpórea gastava demasiada energia.

Arturo ainda sonhava numa vigília pelo fim do mundo, de tempos a tempos anunciado. Apenas sabia que o fazia pela companhia encantada de Flor.

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