segunda-feira, 19 de julho de 2010

029 gerações de poetas obscuros

Aquele sonho de um dia publicar fora finalmente concretizado. Claro que todos vaticinavam desgraça, à partida porque não era conhecido, urgia trabalhar a coisa, só esse trabalho e tirar as pessoas do seu comodismo crónico tirava as hipóteses de venda imediata massiva.

Ficava por plantar a árvore e fazer nascer um filho. E assim regressava ao presente, em que a descrença continuava a ser um ponto assente na sua vida, ou talvez fosse apenas um problema da sua cabeça, pensar que ninguém queria saber dele, era apenas o medo de cair na mais absoluta solidão. Sim, aquela solidão cheia de gente, palavras vãs e sentidos ainda mais ocos. Quando se juntava o Verão à questão e o suor abundava deixando os odores que o enojavam a cirandar por cada canto onde se encostava, era tempo de acreditar que pertencia mesmo a uma geração de poetas obscuros, que se juntava na glória efémera de uma qualquer antologia que ficava para a memória num vídeo colocado no youtube e ainda mais na conta bancária do comerciante coordenador da mesma. Nem se tratava de vergonha o facto de ter deixado de divulgar algo que apenas devia de ser separado da sua pessoa. E quando lhe contavam aquelas histórias de fulanas que se apaixonavam por assassinos famosos, abrindo toda a sua intimidade ao desafio da imaginária possibilidade de passar a ser a vitima final de algum ser abominável aos olhos da sociedade, que estimula, protege e os negligencia. Claro que fazer parte de tal clube só se tornava possível pelo desleixo a que fora votado esse dom, tardiamente estimulado, desprezado e depois colocado num limbo aparentemente sem saída, apenas porque buscava pela vida normal de um humano anónimo.

Ainda assim o desejo habitava-o como se entre cada batida do coração estivesse a graça de um Deus que até lhe dava jeito que existisse, apenas para pôr ordem no caos interno que era a relação consigo próprio e que distorcia a realidade circundante.

Esses eram dias de profunda amargura, em que nem o desejo carnal ou uma moca bem induzida faziam esquecer, esse desejo premente de fazer parar o sangue que corria nas veias. Pelo menos assumira perante os seus desejos mais íntimos aquilo que queria, apenas era necessário manter um segredo, o que a não acontecer provocaria a sua queda pela eternidade se voltasse a renascer igual ao que era nesta infindável encarnação.

Ela decerto que o entenderia melhor se falassem a mesma língua, mas a maldita tristeza era sempre algo de muito superior a qualquer norma de felicidade imposta ao estilo de vida de cada um.

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