sábado, 12 de novembro de 2011

119 não há fim para o frio


O corpo parecia seguir sem rumo. A noite era mais que suficiente para o desnorte e sombria constatação de almas perdidas ou apenas em busca de um rumo.

Aproximou-se sem medo de retaliação dos corpos vagabundos, perdidos no envelhecimento, ‘onde anda a tua alma corpo esquecido?’

Ao longe uma visão, puro enfado e alucinação das almas perdidas em conferência caótica, sem nunca chegarem a uma conclusão ‘que fazer com estes corpos sem coração?’. Os corpos habituaram-se depressa após alguns momentos de confusa sensação seguindo pela vida sem alma, sem alegria ou tristeza no coração. 
Como podiam escrever os sentimentos sem a alma e o coração enregelado?

Corpos sem rumo e a alma esquecida. O governo preparava legislação. Penas pesadas e zero de contemplação, punição exemplar para quem ousasse usar a alma ou o coração, apenas um pouco de emoção.

O corpo não tem rumo, a miséria que se abateu no simples cidadão nem ele sabe ou conhece. Não sabe mesmo nada da vil situação, nem na carne, no sexo, nos berros numa puta de vida sem aceleração precisa.

Almas esquecidas no esgoto que vai dar ao mar misturado com as vontades perdidas e a pura emoção. Esvai-se a vida na mais pura medida, entusiasmando as surpreendentes conclusões, ordenadas e mesmo sem alma. Nada melhor seria de esperar, desencantar, talvez enviuvar os corpos que sempre seguiam sem rumo. Mesmo que a vontade fosse de brilhar, num ser uno e um caminho repleto de razão.

Arturo sentiu-se condenado à eterna confissão de pecados sem dó, aos olhos furados dos descrentes que se passeavam diante da sua alma em convulsão. Apenas desejava que o sangue parasse de jorrar para poder voltar a contemplar o milagre de uma vida normal.

Apesar do frio e da distância para os demais, conseguia ocultar alguma da sua altivez natural que se esboroava por completo quando se rendia por completo à companhia silenciosa da solidão.

Apenas pedia para não ter de assistir mais aos espectáculos degradantes de comiseração. Sentia-se um cruel assassino por não controlar os seus impulsos, misterioso pela inquieta invisibilidade, angustiado pela ausência do calor intenso provocado por Flor, fingidor de acasos porque sentia ser a vida uma enciclopédia de pequenas idiotices que faziam lembrar de novo os conceitos perdidos da felicidade juvenil.

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