quinta-feira, 8 de abril de 2010

008 horizontes malditos

Dificuldades, apenas dificuldades para alcançar um simples objectivo.

O céu estava quase azul, porém as poucas nuvens presentes dominavam o horizonte. Prenúncios de algo pior que a morte que a vida sem alcançar um pouco da convivência salutar que se diz obter da sociedade é um pouco como viver a quinze quilómetros de profundidade, no desconhecido.

Recebera um telefonema a anunciar a ida para a nova casa pelo que os dias das cortinas vermelhas estavam contados. Já não havia nada a esconder, apesar do corpo nu e do silêncio que não era entrecortado por nada, como se os vagabundos tivessem sido engolidos por um horizonte maldito onde apenas os ditos puros sobreviveriam incólumes.

Pensava com mais força no desejo e no odor da vagina da sua namorada e a voz escapava-se pela estratosfera. Saía uma forma diferente de sorrir o que amenizava o terror latente que sobrevivia a todas as tentativas de impôr algum tipo de tranquilidade. Talvez fosse esse o problema, a falta de naturalidade e a necessidade de o corpo se satisfazer com algo mais que o perceptível. Por isso dispunham-se a diversas formas de drogas que permitiam apenas adiar o inevitável encontro com a vida real e suas costumeiras desilusões.

Claro que o problema estava muito para lá das questões carnais que ele pensava serem a melhor forma de ocupar a mente desgovernada que apenas se ocupava com a negritude de um mundo repleto de aparências. Ainda assim assomava-se ao espírito a necessidade do encontro de duas bocas que pudessem salivar de excitação, lábios de carne imensa que copulassem em magia branca sem adivinhações. Simplesmente desligar a televisão na altura das notícias e escutar aquela versão porno de uma canção que apenas se fez valer de uma razão quente para ganhar dinheiro.

E nos destroços de um horizonte de gente maldita havia sempre a forma mais eficaz de aproximar os seres através das formas primitivas de comunicação. Os cinco sentidos, sem aditivos, orgasmos e aperitivos que lhe permitissem pensar que para além do quarto das cortinas vermelhas estava algo mais que a memória de um vizinho que talvez tivesse viajado de novo para o seu país, a pretexto de saudades, com a segurança de nada mais lhe ser possível num país fechado à expressão natural dos direitos de um vulgar trabalhador.

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