terça-feira, 4 de maio de 2010

013 madrugadas de terror

As cortinas vermelhas haviam feito parte de uma fase da sua vida em que procurava por todos os meios fugir a uma solidão provocada por uma sucessão de erros em que chegava a duvidar das suas próprias apetências sexuais. As mulheres eram o seu templo e o seu inferno, qualquer relação apenas parecia fazer sentido como amizade, quase como se fosse perceptível alguma repulsa que ele nunca chegaria a entender.

Por isso imaginava um mundo diferente em que faria o papel delas e se entregaria a um qualquer homem, sem cara nem desejo. Porém tudo não passava de uma fantasia cruel que apenas lhe amargava mais os dias agudizando-se o sentimento de rejeição advindo de paixões inconsequentes.

Nesse tempo as noites eram passadas entre pesadelos e dores de cabeça violentas. O stress agudizava-se de dia para dia e nem a masturbação servia como escape satisfatório para uma vida em que a única novidade eram os primeiros sinais de hipertensão. Nem por isso largou as batatas fritas com sal ou as misturas de refrigerantes com vodka, dir-se-ia que a situação deteriorou-se dramaticamente e só faltou acompanhar essas sessões de auto-abandono com  algum tipo de droga inalada, mas a solidão e alguma noção de vergonha impediam-no de sair à rua e procurar pela via sacra que levaria a uma cruz invertida e sem salvação.

A situação melhorou quando se rendeu aos anti-depressivos, acompanhados de água. Registou-se alguma euforia e estabilidade emocional, tudo situações provisórias tendo em conta outro tipo de fantasias complementares que incluíam sessões de carnificina brutal sem perspectivas reais de algum tipo de punição.

As noites consumiam-lhe um coração em chaga aberta fazendo-o acordar suado e encarara a realidade com dureza total. Resolveu o pesadelo de olhos abertos no dia em que cedeu às investidas de uma mulher ainda mais atolada em problemas do que ele. Nem por isso as noites passaram a ser de mais prazer porque os sentidos estavam condicionados pela posição oficial do patrão que pensava nele como lixo, um pouco como todos os patrões pensam ser os seus empregados.

Doíam-lhe os olhos de cada vez que o Sol se punha atrás da montanha ou engolido pelo mar, tudo dependia da latitude ou das memórias guardadas de uma tarde de sexo intenso que qualquer dia lhe deixaria uma prenda pouco apreciada.

Anos mais tarde e sem saber o porquê receberia no correio fotos de um menino louro, olhos cor-de-mel que provocaria a ira da sua mulher, com uma predestinação natural para o conflito e criação de teorias da conspiração que foram o início das noites mal-dormidas.

Sem comentários:

Enviar um comentário