sábado, 14 de maio de 2011

067 até não haver mundo

O seu aspecto normal convidava ao desprezo. A sua falta de resposta a dizeres sem piada a ser apelidado de esquisito, como se fosse obrigatório rir por rir. Talvez por isso fosse a favor da liberdade total, sem resquícios da famosa ordem mundial que, de tempos a tempos, um grupo de milionários de mãos ensanguentadas tentava impor ao mundo.

Arturo tanto despertava comunista, como burro ou fascista,  porém nenhuma das três situações se aplicava em definitivo à sua pessoa, ainda assim e por defeito de fabrico congeminava uma quarta via que passara a ser a possível desde que Deus e Lúcifer haviam apostado nele para aniquilar o inimigo. 

Estava-se bem nas tintas para o desespero de só poder contar com Deus em horas de profunda maldade provocada pelos delírios do famoso anjo caído. Ainda assim havia sido protegido pelos dois, até que se rebelou, em silêncio e se dedicou a salvar os humanos no que fosse possível.

Mais do que tudo estranhava a indiferença das gentes quando o seu corpo se elevava no ar, o que o fez pensar mesmo que o ideal seria acabar de vez com o mundo da forma podre como ia sendo desgovernado. Com paz ou com guerra, tudo seria sereno e com doses de extremo prazer a quem se comprazesse com ele.

Até não haver mundo exterminaria todos os seres comprovadamente doentios, sem que fosse permitido aos donos das clínicas chupistas de pseudo-recuperação enriquecerem à conta de desordens irreparáveis.

Foi sem espanto que começaram a aparecer corpos carbonizados em florestas queimadas. Se lá estavam alguma culpa teriam. Na mente dos peregrinos havia de ter certezas absolutas e eles nunca duvidavam dos actos necessários para acabar de vez com qualquer tipo de criminoso.

As parcas gotas do fluído lançado em cima dos carvalhos fizeram com que o pior defeito de cada um sobressaísse aos olhos dos peregrinos, sendo essa a forma justa de eliminar os verdadeiros pecadores que apenas serviam para fazer florescer as ervas daninhas de uma sociedade cada vez mais doente.

Sem surpresa muita gente desapareceu do mapa, outros severamente castigados, outros apenas seguiam a sua vida mais ou menos fútil, mas sem implicações na podridão reinante.

O mais complicado de dominar era a multiplicação da perversão em gente supostamente ligada ao comércio do Bem.

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