domingo, 6 de março de 2011

054 a península delirante

A mulher deslumbrante ia abrindo caminho por entre as hordas de homens e mulheres excitados. Ao passar por alguém, este era acometido de demência instantânea, atacando quem lhe aparecesse à frente até nem os ossos lhe restarem.

Não foi preciso muito para que ali mesmo tivesse início uma pequena guerra cívil, onde a maldade de cada um era extrapolada muito para além do confronto físico. Os corpos despedaçados foram-se acumulando.

Ele ficou paralisado até ela chegar perto de si. Quando o alcançou despiu-o e fornicaram até à exaustão, enquanto o Apocalipse parecia tomar conta de todos à volta deles. Passado o tempo de se saciarem, fundiram-se, num processo absolutamente excruciante para ele que gritava sem parar sem que, no entanto, tentasse libertar-se.

Assim que terminou este processo, deu por si num carro, a caminho das praias. Ao seu lado estava de novo a namorada. Atrás as quatro filhas cantavam felizes um emaranhado de sons que se entranhava bem na alma.

Deixou de pensar no que era realidade ou fantasia. Sabia bem que elas nunca haviam estado ali e no entanto a realidade era aquela. Começou simplesmente a acreditar que a história dos sete demónios era verdade. Só isso explicava tanta e tão confusa reviravolta que o levava a tocar os extremos da península ibérica em sonho e realidade sensata e irracional ao mesmo tempo.

Dentro da sua tenebrosa lucidez deu-se conta que o que se passara antes fora a entrada de um demónio dentro de si. Sentia-se normal à mesma, mas a infalível intuição disse-lhe que algo estava profundamente errado. Poucos segundos depois teve um brutal acidente de carro, perdendo a consciência.

Ao acordar viu uma grande azáfama de médicos e enfermeiros. Ouvia falarem acerca de transfusões e da necessidade de entubar. Voltou a desmaiar. Tudo ficou completamente negro, não se lembraria de mais nada até voltar a acordar.

Lá fora dava-se uma revolução sangrenta, sempre contra a invasão das tropas americanas, cuja indústria de armamento decidira por sorteio ser a península ibérica o sítio ideal para despejarem as suas bombas excedentárias. Portugal, como quase sempre, era o elo mais fraco e entrariam por aí.

Os supostos senhores do mundo foram novamente surpreendidos com a resposta eficaz dos ibéricos não aliados de Madrid, que em segredo queria erradicar de vez toda e qualquer cultura que não fosse cem por cento castelhana. Essa surpreendente visão fê-lo despertar. 

Sem comentários:

Enviar um comentário