domingo, 5 de junho de 2011

072 tudo são sombras

Por vezes os sonhos eram reais, o corpo abandonava-se aos caprichos da alma e a realidade desejada emergia de uma sombra que mais parecia um buraco negro. Encontrava um antigo amor do qual se afastara em definitivo, tentando reatar a vida normal que não podia ter quando estava acordado.

Como se fossem as trevas, ficava especado à espera dos demónios que o levassem para o outro lado da fronteira, mas ao mesmo tempo encontrava um luz branca, intensa, que compensava o lado maléfico da existência. Ainda assim não conseguia admitir que a vida fosse algo mais que sombras a vaguearem, quase sempre soltas do corpo a que pertenciam, antes tormentas assassinas que desempenhavam esse papel quando menos se esperava.

Ao despertar acompanhava-o a solidão própria do fim dos dias embora Flor e os outros discípulos estivessem mentalmente ligados. Sentia-se na posse plena dos seus poderes quando os pés deixavam de ter contacto como chão que sempre pisava.

As inúmeras missões deveriam ser concretizadas de dia e Arturo ia atacar de forma incisiva um dos piores cancros da podre humanidade. A exploração infantil em todos os seus sentidos e desculpas esfarrapadas. Deixara de fazer sentido que um criminoso que destruía a inocência infantil pudesse recuperar a sua vida e passar-se para o lado dos justos. Aqui não havia lugar a fraquezas apenas lutar contra a justiça instituída destruindo essa tradição consubstanciada por seres que se aproveitavam da sua riqueza material para satisfazer qualquer tipo de desejo, por mais perverso que fosse.

Começou por entrar dentro da cabeça de alguns pedófilos. Tomou conta da sua vontade própria e levou-os directamente às famílias das vitimas. Se fosse necessária a tortura ou a morte isso não seria um problema, antes uma forma de purificação do mundo letalmente intoxicado. Em certos casos vendo a total ineficácia da justiça levou-os à auto-castração, em público, sangrando até à morte. 

Nem o bem, nem o mal ficariam associados à imagem da sua organização, antes a tentativa de sabotar a missão que de louca apenas tinha o nome.

Provocou um banho de sangue indescritível. Algumas zonas entraram em colapso com a colocação em prática da protecção dos direitos humanos dos menores. Também era absurdo pensar que muita roupa usada pelos europeus fosse confeccionada por petizes sem infância. O fim desse tipo de exploração levou a uma vingança brutal contra as almas perdidas em corpos sujos na que se tornou uma missão extremamente dolorosa para qualquer um dos peregrinos.

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