sábado, 18 de junho de 2011

081 o inesperado visitante

As falhas eram algo de previsível, ainda para mais com 72 almas actuantes, todas imbuídas do mesmo espírito, sempre com a sua dose de independência mais evidente que o desejável. O envio dos demónios e dos anjos, mesmo a presença das entidades máximas do imaginário humano eram a prova de que, mais cedo ou mais tarde, abrir-se-ia uma brecha na muralha espontânea que se havia criado em volta dos peregrinos.

A missão da união era Arturo que a punha em prática, ele que aparentava estar onde nunca estava. O seu poder já havia ultrapassado todos os limites possíveis e imaginários e ainda assim dependia da perfeita harmonia com os outros que não podiam falhar, nem sequer ceder à sua antiga condição de meros humanos apesar de o saberem e sentirem o peso das consequências de cada vez que, sequer, pensavam nisso.

Vindo do natural nada surgiu o inesperado visitante e as fronteiras entre a condição humana e a divina haveriam de esbater-se sem que ninguém se desse conta ou o mundo estremecesse perante tão abrupta aparição. Arturo ficou ali, paralisado, de boca aberta, quase nem sabia o que dizer.

Ficaram algum tempo a olhar um para o outro, como que esperando uma qualquer reacção. Porém os sentidos não se deixariam tolher pelo medo e o misterioso ente que ali se revelava anunciou o que o trazia ali. Talvez fosse provocar orgasmos múltiplos ou apenas depressão profunda pela impossibilidade de excitação, o certo é que depois da surpresa inicial deram um abraço fraterno e materializaram duas bijecas, bem geladas, sem que a vulgaridade da garganta seca desmerecesse um qualquer acto mais consequente.

As células do coração começaram de novo a ser atacadas e a ira estava elevada ao expoente máximo, decerto que a aparente calma não passava disso mesmo. Aparência e que o regresso a uma simplicidade que julgara perdida era parte desse processo de aparência. O visitante segredou-lhe algo e desapareceu tal como havia aparecido.

Todo este expoente de loucura elevado ao infinito intranquilizou-o e lembrou-se dos tempos em que, mero invólucro de carne e osso, tinha que satisfazer alguns hábitos e rotinas. Vinha-lhe à memória o sabor de um bom café quente sem açúcar e sobretudo as caminhadas que por vezes dava com o seu pai.

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