terça-feira, 7 de junho de 2011

074 no fim dos dias

Os dias sucederam-se com o avolumar dos sinais que prediziam o fim do mundo tal como era conhecido.

Por onde andava Deus enquanto Lúcifer se soltava das amarras das profundezas do Inferno? E o que teria ele reservado para os Peregrinos da Sagrada Loucura, aos quais dera força incomum?

De uma coisa estava Arturo certo, enquanto conseguisse escapar à Ira do Céu e à Inveja do Inferno, podia continuar a abastecer-se da energia necessária para, pelo menos, incomodá-los.

O caminho era completamente diferente daquele a que grande parte dos humanos estava conformado pelas contínuas lavagens ao cérebro que tornavam verdade aquilo que para quase todos os entendidos não era mais do que uma farsa bem elaborada. Lutando contra o bem e o mal não poderia encontrar melhor terreno que um interlocutor silencioso para fazer passar os seus desvarios, quase sempre poéticos, quase nunca eivados de amor, quase sempre conotados com dicotomias profundas.

O desgosto de Arturo era não conseguir viver numa cruzada para a qual tinha sido arrastado à força.

Apesar do esforço tremendo levado a cabo pelos 72 peregrinos para fazerem passar a doutrina da Sagrada Loucura, havia algo que amotinava o cérebro de Arturo e provocava um histerismo intenso em Flor. A questão não se punha em Deus ou Lúcifer, os verdadeiros traidores da raça humana eram ainda mais antigos que o Universo. Como é que se tinha entranhado esse conhecimento era algo que ambos estavam a descobrir, por uma via assustadoramente dolorosa, a da separação. Ainda assim a fé inabalável que os movia agigantava-se, mesmo com a ameaça do fim dos dias.

Um desejo insaciável de aniquilar essas aberrações humanas baseadas em mitos com que apenas alguns lucravam, dominava a verdadeira essência de uma luta que parecia perdida, alegrando os anjos celestiais e os demónios mais poderosos. Mas mesmo estes entendiam que para lá da criação humana, havia a sua própria criação, guardada em absoluto segredo até à espontânea constituição da irmandade peregrina da Sagrada Loucura, patrocinada, afinal, por entidades corrompidas por séculos de poder e destruição.

Arturo por outro lado, apesar da sua aparência humana entendia que devia aprofundar esse conhecimento das verdadeiras entidades reguladoras do equilíbrio universal. Essa tomada de consciência fez o tempo parar um segundo, o que permitiu a passagem de todos os peregrinos para um passado recente.

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