sexta-feira, 10 de junho de 2011

076 senhora da ternura

Entre todos os peregrinos existiam tentações diferentes, não se buscava a perfeição, nem desejos estanques. Todos sabiam que apenas se buscava a maior das utopias, a liberdade. Acrescentar um pouco de ternura a essa demanda não era nada demais, mas a azáfama era tanta e os supostos seguidores aumentavam a um tal ritmo que por vezes se esqueciam da sua condição de meros humanos.

Sendo a mais dura de entre todos era a que protegia com mais afinco aqueles que estavam destinados ao degredo eterno da ausência de urgência. Antes da calma absoluta que levaria as almas ao suicídio moral ela dava-lhes o conforto necessário a essa transição buscando, por vezes, o terror absoluto como medida para enlouquecer as ideias feitas, expulsando-as. Claro que Arturo, mas sobretudo Flor não podiam saber desta perda de tempo, que apenas desviava as atenções do que era verdadeiramente importante.

Ela, a Senhora da Ternura, não sabia do paradeiro de preconceitos dentro da sua alma, castigos injustos, decapitações morais ou desejos impulsivos que pudessem levar à morte antes da chegada natural do destino. Não, isso eram coisas dos banais invólucros a quem chamava de inquisidores, os humanos portanto.

Ela, a temível Ternura fazia cair corações de peitos desavindos com a sua expressividade. Um abraço não podia faltar, assim como a famosa Ira que a fizera juntar-se ao grupo. Aninhada no seu refúgio desconhecido conseguia controlar o tempo quando chovia, como se escutar cada gota de água fosse identificar cada profecia necessária à harmonia das coisas, com ou sem humanos a desculpabilizar-se de tudo e de nada.

O povo andava descontente quando ela se imiscuía nos seus assuntos e sorria pelo desassossego alcançado, como se a viagem fosse a outro universo repleto de planetas com vida pronta à formatação, em nome dos nefastos interesses humanos. Parecia que as consciências despertavam para o poder infinito da Luz na sua vontade própria.

A Senhora da Ternura apenas era chamada à atenção pelos anjos, pela limpidez dos seus desejos, mas sobretudo pela incapacidade de diálogo perante a prepotência das leis. Era vista como uma concorrente nefasta dos interesses instalados.

Os demónios que governavam com aparência humana tinham um poder acrescido, com os impostos cobrados à cabeça, ameaças sobre ameaças e a única esperança dos que lutavam estava no grupo dos 72. Terna, como era conhecida, atirava-se de cabeça à salvação do que era possível, sem ter que avançar para o ódio total, a forma imbecil, porém eficaz de destruir qualquer tipo de evolução das espécies. Era assim que afastava em definitivo casa demónio que atrasasse a vitória sobre a insanidade.

Apenas o Planeta esperava até se proporcionar o Apocalipse, enquanto os humanos se assediassem e Terna sorria com doçura enquanto a guerra decorria.

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