quinta-feira, 9 de junho de 2011

075 nocturno espírito

Eles levaram aos ombros um conhecimento que modificaria todo o saber adquirido.

Sentava-se naquela cadeira como se fosse o primeiro dia, com os fantasmas recentes de um fracasso submerso por uma débil porção de humildade, apenas para destruir os mitos das pauladas no coração.

El, um anjo caído na tentação do poder por duas vezes, vagueava solitário pelo mundo, mesmo quando passava pela sua casa e pela cadeira onde se sentava, envelhecida como a vontade de progressão.

Tornava-se difícil conjugar um passado de mágoas com uma diferença quase olímpica que quase o fazia desistir como se as fraquezas da carne fossem para ali chamadas. Era preciso não esquecer o porquê da deserção e o facto de se encontrar num limbo em busca da saída perfeita rumo à fusão com aquele bando de exilados que se auto-proclamavam de terceira via. Seduzia-lhe essa alternativa apenas e só pelo poder, a sua única meta enquanto entidade sobrenatural, algo perfeitamente banal entre os seus pares.

No passado recente em que os peregrinos liquidaram um dos mais perigosos demónios, do qual se acercaram no preciso segundo em que tudo mudou, a luz do paraíso tentou instalar-se, sem sucesso é claro, nas entranhas de seres que não queriam esse tipo de iluminação.

Como sempre e aproveitando a sabedoria assimilada com a experiência terrena do dito demónio, foi dado mais um passo em direcção à via normal, preconizada nos enigmas dourados que Arturo guardava dentro de si, num compartimento à prova de qualquer tortura. Deus e Lúcifer assim o quiseram, apesar do secreto arrependimento.

El entrava então numa casa onde estavam dispostas setenta e duas cadeiras, divididas por seis mesas, como se fosse a repetição da última ceia em seis dantescos cenários diferentes. Conseguiu visualizar a última vez que tinha estado ali gente e na sua nocturna visão da vida entrou dentro de cada projecção de forma a poder sentir cada pedaço de emoção presente dentro dos corpos imaginados.

A sensação de transporte para essa dimensão onde eles estavam tornou-se uma experiência limite, consumindo toda e qualquer energia positiva que tinha previsto receber.

Ainda antes de chegar à última mesa deu-se uma violenta explosão. Tomou consciência da sua aparência humana e a custo juntou os cacos de uma existência quase imemorial. Ao cair uma lágrima no chão foi transportado para uma realidade alternativa.

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