quarta-feira, 10 de agosto de 2011

088 corpo que se extingue


 
Como reacender a chama num corpo que se extingue?

Se o mundo quiser ouvir algumas das soluções e aplicar o dinheiro da guerra no desenvolvimento humano decerto que a pergunta atrás feita é de resposta básica. A sua simplicidade, no entanto, não a deixa voar para lá da mera utopia, causando destruição e ainda mais guerra como vingança. O que se passa é que os ouvidos do mundo estão com defeito, evoluindo os seus novos componentes para uma surdes específica, em que apenas entendem mensagens subliminares.

Num momento transpira saúde, selvática vontade de destruir dores e preconceito, no outro apenas se arrasta até ao final do degredo., onde mergulharam todos os deuses do Olimpo quando a antiga Grécia passou a memória.

Um corpo que se extingue, uma vontade aproveitada nem sempre da melhor maneira, sempre com os olhos postos na produtividade e dinheiro extraído, enquanto há chama no corpo que se vai extinguir em breve.

Flor, com as suas indecisões abafadas em rios de lágrimas, na dimensão para lá da compreensão, combate esses demónios. Cada lágrima expelida no outro mundo é um punhal cravado na maldade que flui entre mundos, na vontade de ver os filhos de todos crescerem sem o preconceito do bem ou do mal, apenas conscientes das suas opções, de que a realidade escolhida não prejudique o regresso à harmonia inicial, só possível com um Apocalipse, não exactamente igual ao dos homens que inventaram deus, mas o de Deus que inventou os homens. E ela via em cada humano predisposto à mudança radical um demónio que se extinguia, um anjo que enlouquecia, uma vida que se enriquecia.

Lá fora no tempo das chuvas abundantes, ouviam-se os acordes da guitarra de Carlos Paredes a sair das entranhas da terra para anunciarem vida, mesmo que depois apenas sobre-viesse o desencanto, e Flor ganhara o dom de descobrir o que podia correr mal, lançando novas sementes, impolutas, virgens da desgraça humana que tanto afligia o planeta.

É um trabalho quase monstruoso decifrar os verdadeiros humanos dos viajantes entre dimensões, que apenas têm como missão destruir, deixar um rasto da sua ambição desmedida pela construção dos fossos mais fétidos do Inferno aos olhos e alma de quem apenas procura o paraíso possível.

Entre tanto trabalho e assombração ainda tinha como trabalho manter acesa a chama do amor entre ela, as filhas e Arturo.

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