segunda-feira, 22 de agosto de 2011

108 o silêncio da vida

Era já raro o dia de silêncio, se bem que entre as inúmeras passagens entre dimensões se atropelassem almas pouco mais que virgens, ainda delirantes com as consequências graves provocadas pelos humanos ao meio ambiente.

Levantavam voo assim que tomavam posse dos seus poderes, especialmente desencantadas com o imenso trabalho que sempre lhes parecia uma maldição. Aterravam e eliminavam um a um os profundos preconceitos, tremendamente enraizados em sociedades decrépitas no sentir, no evoluir e na simples vida que não sabiam enfrentar.

Eram trabalhos em silêncio. Levavam vidas inteiras a mudar um simples hábito e na realidade apenas passavam alguns minutos. 

Claro que não envelheciam, fora-lhes dada a dádiva da eternidade para alcançarem o apogeu da terceira via. Nem o Bem, nem o Mal, apenas uma férrea vontade própria baseada no respeito pelo próximo, sem que fossem obrigados a viver sob o jugo de leis castradoras que apenas serviam para desviar o pensamento humano daquilo que realmente lhe interessava.

A questão que se punha era a de reeducar os gostos das massas, mostrando novos horizontes às definições há muito tidas como intocáveis, já nem sequer eram pensadas quanto mais postas em questão.

Mesmo os resquícios de uma civilização supostamente moderna tinham que ser dizimados para que não fossem tomados de assalto por demónios ávidos de vingança pela eternidade de sofrimento a que tinham  sido condenados.

Em contacto com a natureza, banindo para sempre a praga dos fogos florestais havia a possibilidade de convocar todos os mitos benéficos à mudança fundamental.

O silêncio era muito mais que apenas ouro, a mera cumplicidade de olhares funcionava como uma linguagem, assim como uma mera nota musical podia ser uma frase que mudaria de significado consoante o som do ar, o dia ou a noite, a luz ou as trevas. Não era possível, na dimensão em que o Além tinha quem o combatesse, tornar normal aquilo que de maneira alguma podia ser Universal.

Era certo que nos intervalos da extrema luz ou profundas trevas algo provocasse a diferença fundamental e Arturo tinha papel fulcral nesse desiderato.

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