sexta-feira, 19 de agosto de 2011

103 ameaçadora volúpia


A forma de comunicação nem sempre era a mais eficaz. Esperando reacção obtinha silêncio e lugares comuns, a natural superficialidade de gente a quem lhe custava entender tanta apatia. Decerto que antes de descobrir o caminho peregrino era visto da mesma forma pelos seus antigos pares humanos. Depois apenas as memórias de uma volúpia doentia o faziam olhar de perto para o fundos do mar Egeu e tentar encontrar lá alguma divindade grega desagradada com o tenebroso estado de coisas.

A volúpia desencantou-a em todos os peregrinos que o acompanhavam num violento amanhecer de feitios conflituosos, inteligências desavindas com o vulgar ou com o dito erudito.

Se sentia o doce aroma de Flor no ar, dava-se vencido por instantes, que gostava de pensar serem eternos, nos intervalos do amor e das sementes lançados no corpo dela com o único propósito de procriar. Deus devia estar contente, mas Arturo não era um fiel depositário das premissas pelas quais Este se regia, apesar de não serem tão rigidas como as declamadas pelos sacerdotes tiranos que apenas ateavam fogos e incentivavam guerras com as suas retrógadas posições acerca do livre pensamento, do alegre bailado de fluídos entre homens e mulheres sem ser com a firme vontade de procriar.

Talvez por isso sentisse uma especial atracção por aquelas mulheres que não podiam exibir o corpo como bem lhes aprouvesse, pela interpretação machista de leis impostas pelo homem à revelia da entidade divina que se cansara de tanta prepotência. Sim, era claro esse desconforto perante a tirania reinante na cabeça de cada um, consubstanciada com religiões deturpadoras dos princípios básicos e necessários a uma vida sã e feliz.  Sentia que por ter acesso a muito mais que 10 por cento das capacidades cerebrais, ter mais facilidade em transformar essas fraquezas em desejos de prosperidade, sem riscos de cansaço, de perseguição ao mero acto de respirar, ao menosprezo dos ideias de cada ser que manifestasse claramente ser útil para si próprio, porque só assim se podia permitir olhar para os outros encontrando a necessária grandeza de espírito.

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