quinta-feira, 11 de agosto de 2011

093 as nuvens da tua dor

Haiva alturas, na ressaca dos momentos cósmicos obtidos perto do infinito, em que a dor se sobrepunha, não através das lágrimas de Flor, mas acima de tudo da frustração de Arturo não conseguir salvar tudo e todos. O que ainda mais lhe custava a aceitar era ver a decadência acelerada dos seres que amava com todas as suas forças e não poder ajudá-los.

Ficou-lhe na memória a frustração de não ter conseguido trazer para o grupo de eleitos a sua melhor confidente, enredada num mundo alucinado em que apaziguava a dor dos outros mas tinha incapacidade permanente de apagar a sua. e nada fazia para melhorar, para entender da mesma maneira que ensinava aos outros que a vida é um lugar onde apetece estar, sobretudo com quem se importa.

As nuvens da desgraça eram parte activa do combativo Arturo, parecendo escurecer a sua pele à medida que os desejos dos outros caíam por terra. Era apenas a vingança de Deus que tinha sempre que sacrificar algo para provar que se era temente a Ele.

Puro engano, pura desgraça, enquanto num passado recente alguém se enforcava, ao passo que na rádio do presente passavam canções de Natal. Podia ser ele para quem o Natal eram apenas momentos em que alguém descarregava a sua frustração, apenas reveladora do sentido obtuso daquilo que é respeitar a paz de espírito dos ainda impolutos da corrupção mental a que todos são sujeitos.

De dores, mas também de muitos amores e alívio por ainda assim poder ajudar Flor a sorrir, acto petrificador para anjos vingativos que depois Arturo desfazia em cinzas espalhadas por um vento repentino.

A dor convivia com a desgraça, mas também com a necessidade de expurgar as ervas daninhas da alma que sempre impediam de ver mais além.

Algo que iria mudar era a extrema sensibilidade à ausência, sendo gradualmente substituída por uma nova droga, ainda exerimental que ainda carecia de suficientes experimentações em cobaias desprevenidas. Em túneis secretos eram capturados os guerreiros do bem e do mal era submetidos à prova inequívoca da sensibilidade total, até a perderem por completo.

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