quarta-feira, 17 de agosto de 2011

100 sombra entre as sombras

Chove, mas não faz frio. O amargo do café ainda faz sentir um pouco da vida antiga, dos desejos e das falhas de memória para o perdão que mais parece humilhação.

Consciente do Céu e do Inferno viaja incólume até à brecha existente no fim do Universo, provando ao vácuo e à desgraça do silêncio espacial que o finito é um pouco mais além.

Chove, mas não faz frio nem o francês decadente provou o que quer que seja com a sua definição divina de amor, porque apesar de Arturo ser a exacta fronteira entre o bem e o mal não deixa de ver as invenções mirabolantes do espírito humano passearem a sua soberba perante a desgastante compaixão, exclusivamente humana, vilmente despedaçada por um descendente imaginário dos hiperbóreos, o anti-cristo sem medo de símbolos, Apocalipse ou outros truques sujos na manga para enganar os seus antecessores.

Chove, mas não faz frio e as sombras dos incautos decifram-se num buraco negro quase sempre existencial, nem sempre lógico, quase sempre necessário para os que se movem nas sombras possam absorver a energia positiva circundante.

E os humanos seguem impávidos e serenos à beira de um abismo que julgam ser o Éden prometido, consubstanciam a indiferença pelo destino com os pequenos prazeres e pecados mundanos. Esta é decerto uma das pequenas premissas que convém manter, porque nem tudo está mal no reino das trevas, da indifrença emocional ao mal-estar provocado pela ganância dos humanos, cada vez mais despudorada.

Chove, mas não faz frio, entre os desertos onde os escorpiões alimentam uma raça de suícidas perante ameaças externas e uma terceira facção deixa de ser fonte de pesadelos para a necessária realidade.

Era mais fácil nem sequer tentar perceber o amor e o ódio, a fé ou a descrença, a protecção ou os maus-olhados. Bastava apenas abrir os olhos para as sombras envolventes, ver que se movem independentemente do dono e acabam por levá-lo por onde querem, até ao dia em que, de sombras, passarão ao infinito da morte, em negro constante. Ou talvez voltem quando encontrarem uma nova brecha no Universo finito.

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