segunda-feira, 15 de agosto de 2011

097 contos insuportáveis

Voltando ao drama anterior e às recordações banais que parecem repetir-se ad eternum a quem nunca teve capacidade para voar quando devia, apenas há a destacar as feridas causadas pelo gato de uma namorada antiga após experimentar queda livre involuntária após ver um pardal passar por ali perto do beiral da janela onde estava e movendo-se pelo errado instinto de um animal meigo e incompreendido saltou, mas nem por isso morreu. Se o caminho for esse então a janela de onde caiu o gato promoveu outro tipo de atitudes irreflectidas, próprias do egoísmo de quem roubou amor-próprio sem se dar conta do prejuízo alheio de quem lutava como cavaleiro armado contra moínhos velhos e sem história para contar. Além de frustrante torna-se uma traição sem perdão, nem um pouco de açúcar a adoça, apenas a nautral erosão das ideias que permite aos imperfeitos seres humanos darem-se uns com os outros.

Insuportável como a solidão programada, são os ciúmes, sobretudo sem que depois haja um festim dos corpos que não se saciam em almas alheias ou sem que depois haja um mero olhar ensanguentado de vida que anuncie o perdão pelas parvoíces elaboradas pela eterna questão da insegurança.

Arturo havia passado por essa intempérie de janelas quebradas de vida, onde hoje há memória, apenas de morte, com a sorte do renascimento e da verdade de fechar esse livro, viver e crer que há algo mais profundo que morrer em pleno mar Egeu.

Não deixa de ser irónico que muita da sua inspiração a tenha ido buscar às histórias rocambolescas das discussões que apenas serviram para desgastar, como se o atrevimento pela demonstração inequívoca de um egoísmo sem limites fosse promovida de imaturidade a instituição nacional, um pouco como tanta coisa que impede as pessoas de saberem o que querem.

Mas o tempo já não era só de lágrimas, nem de leituras num sofá onde ainda dá largas à preguiça. Havia que subir aos céus e contrariar a desgraça institucionalizada. Era uma missão, um desígnio imbuído apenas de verdade, cravado dos defeitos normais de quem tem um corpo para abrigar a alma, mas também uma forma de desprezar ao máximo o nacional fatalismo muito para além dos velhos do Restelo.

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