sábado, 13 de agosto de 2011

095 quando tinhamos o mundo

Um simples beijo matinal era tudo quanto bastava para começar o dia, houvessem os desastres naturais e Apocalipses que houvessem, que aqueles lábios entrelaçados demoliam todas as energias negativas. Na altura do desejo ninguém queria saber se o mundo ia mudar ou não, apenas juntar os corpos num frenesim desvairado de fluídos em baile desordenado, os berros e as fronteiras desvanecidas do amor sempre em crescendo. O sexo era puro e duro sem a contemplação dos filhos de Deus feitos na cama com o Diabo, apenas encaixar o prazer descomunal sem que alguma frustração filtrasse a felicidade.

Quando tinham o seu próprio mundo até eram a personificação de uma vida normal, sem a mente prostituída ou os desejos corrompidos, apenas fluídos desgovernados entre os dois. Foi assim que se amaram no início, atrás das cortinas vermelhas, num silêncio abruptamente interrompido por gemidos de louco prazer. Possivelmente até teria sido por isso que o vizinho do prédio em frente se mudaria mais tarde, por não conseguir passar de um mundo virtual de frustrações em permanente descarga.

Lembrava-se desses dias e apenas com isso, já conseguia arranjar forças para dominar as fraquezas dos seus seguidores. O ser humano fora feito para se desentender sem que antes das desgraças fingisse sequer ter qualquer tipo de pena pela sua quota parte de responsabilidade pela desgraça entranhada no mundo.

Sabia que era o homem que fazia toda a diferença, insistindo em andar com os pés bem assentes no chão, para que todos os que o seguiam não esquecessem qual a sua proveniência e, acima de tudo, a razão pela qual lutavam para mudar o estado de coisas.

Quando o mundo se resumia ao pequeno espaço em que se moviam, tudo parecia de uma pequenez sem fim ao pé da sua rejuvenescida vontade de viver, amar e conjecturar acerca das imensas possibilidades que haviam em transformar o que os rodeava num sítio mais aprazível e sobretudo duradouro, desmentindo as proféticas desgraças anunciadas de tempos a tempos.

Ao mesmo tempo que enchia o peito de orgulho e analisava o infinito que se lhe deparava, dava passos sustentados rumo ao domínio do eterno bater do coração.

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