O círculo perfeito formou-se de
novo, as nuvens voltaram a encaixar-se em múltiplos átomos de composição
desgovernada. Nada de novo no horizonte, apenas que as noções de vulgaridade
mudavam e que cada uma que surgia era entendida como a sumidade das proposições
celestiais.
‘Uma merda é que era celestial! –
Pensava Arturo, que uma vez tendo desistido das velhas andanças de pés assentes
no chão resolvia andar em poses prepotentes de metamorfoseamento de seres que
entendia terem potencial para enlouquecerem com a bravura necessária no caminho
para a eterna falta de estupidez.
Terminara de vez a paciência para
as mesmas histórias vindas de pessoas iguais, em corpos diferentes. Quem
tentasse corromper o seu parco equilíbrio teria uma guerra sem precedentes à
perna.
Noutro canto do Universo, a
paredes dos seus limites, aparentemente inexpugnáveis, estavam a ceder.
Definitivamente nada era inexpugnável, os anjos e os demónios atravessavam tudo
o que queriam, logo o Universo fazia parte desse querer sem pudor.
Na ligeira brecha, invisível para
todos, algo passou. Ainda assim todos sentiram algo, apesar de apenas o
entenderem como mais uma peça do intrincado enigma da vida, não lhe dando a
importância devida.
À passagem por cada corpo
celestial do Universo livre e expandido algo se purificava. Apesar disso o
desconhecimento, que motivava a indiferença, continuava a ser uma constante. Um
dos segredos dessa indiferença poderia estar ligado à total ausência dos
fracassos nascidos no ventre de todas as mães em sofrimento permanente.
Tornava-se mais poderoso à medida que se ia aproximando da Terra. Dentro de si
trazia a promessa de uma nova vida, sem que ninguém sequer sonhasse que parar e
pensar um pouco nisso não era perder tempo.
Quando entrou na atmosfera
terrestre, tomou a forma da pura energia, o que lhe quebrou a invisibilidade
total, mas não a saciedade de descobrir o que tinha purificado o Universo de
todas as suas falhas. Depressa se viu envolta pelos emissários do Bem e do Mal.
Imediatamente detectou os imortais e os que existiam na ilusão de sentir o que
a alma era para sempre, sem que isso os motivasse a serem melhores pessoas.
Trucidou os espíritos fracos.
Reuniu-se primeiro com Deus, depois com Lúcifer. Uma eternidade depois ocupou
todo o espaço livre que ficava dentro do círculo perfeito formado por 72
peregrinos que louvavam a suprema sanidade da loucura.
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