sexta-feira, 25 de maio de 2012

143 no ocaso de um beijo


Este tempo todo que passou e não consegui sequer entender o respirar daquela montanha. Quando passava em cima daquela ponte e via o seu cume coberto de um branco, possivelmente sujo, repleto de células cancerígenas, algo banal na debilitada atmosfera, até conseguia ver algum romantismo, esquecer-me desses atentados constantes a algo de profundamente belo, transbordante de vida e excitação.

Os beijos. Às vezes passava tanto tempo sem sentir aquela boca de sonhos bem despertos, que, acumulada de excitação por soltar, levanta até um morto. Isso é gerador de ciúmes, esse sentimento de MERDA que provoca tanto mal-estar. Sim, é verdade que também provoca tesão, se não for exagerado, só que é difícil não ser egoísta ao ponto de esquecer os outros e desfrutar o desejo em vez da angústia.

Já não sei bem por onde ando. A missão terminou. Já não tenho Bem nem Mal que me tolham os sentidos. Não é por mim, que há muito despertei para estas cenas maradas, mas por aqueles que, tendo valor, andaram tanto tempo bloqueados num contentor hermeticamente selado, cheio de coisas nauseabundas, vendidas como a perfeição em si, como a vida de sonho dos que se contentam com aquelas pequenas coisas, como a rotina casa-trabalho-casa ou o mero encolher de ombros perante as crises cíclicas perpetradas pelos do mundo. Ah! Os donos do mundo, aqueles seres que chacinei, alegremente, não há muito tempo, numa daquelas viagens complicadíssimas a sítios privados do anjo Lúcifer. Sim a terra do rei dos demónios, um anjo caído em desgraça, onde rastejava incólume um mero clone do velho corcunda, numa ‘supositória’ desgraça.

E Deus? Nunca consegui entrar nesse tão propalado paraíso. Talvez seja na montanha, naqueles dias em que as nuvens tapam o topo, majestoso em dias de Céu azul, que haja um portal descodificado para se poder lá entrar. Mas como interrompem o trânsito a meio da subida, nunca se chega a saber com o que verdadeiramente lá habita. E as vezes que tentei lá entrar? Descobrir se há algum mistério divino por desvendar.

Ainda assim é dos beijos de Flor que sinto mais falta, da sua fogosidade carnal que me dá tantas ganas de continuar vivo, sem medo das transições alucinadas entre mundo que apenas têm o lado negro em comum.

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