Este tempo todo que passou e não consegui sequer entender o respirar
daquela montanha. Quando passava em cima daquela ponte e via o seu cume coberto
de um branco, possivelmente sujo, repleto de células cancerígenas, algo banal
na debilitada atmosfera, até conseguia ver algum romantismo, esquecer-me desses
atentados constantes a algo de profundamente belo, transbordante de vida e
excitação.
Os beijos. Às vezes passava tanto tempo sem sentir aquela boca de
sonhos bem despertos, que, acumulada de excitação por soltar, levanta até um
morto. Isso é gerador de ciúmes, esse sentimento de MERDA que provoca tanto
mal-estar. Sim, é verdade que também provoca tesão, se não for exagerado, só
que é difícil não ser egoísta ao ponto de esquecer os outros e desfrutar o
desejo em vez da angústia.
Já não sei bem por onde ando. A missão terminou. Já não tenho Bem nem
Mal que me tolham os sentidos. Não é por mim, que há muito despertei para estas
cenas maradas, mas por aqueles que, tendo valor, andaram tanto tempo bloqueados
num contentor hermeticamente selado, cheio de coisas nauseabundas, vendidas
como a perfeição em si, como a vida de sonho dos que se contentam com aquelas
pequenas coisas, como a rotina casa-trabalho-casa ou o mero encolher de ombros
perante as crises cíclicas perpetradas pelos do mundo. Ah! Os donos do mundo,
aqueles seres que chacinei, alegremente, não há muito tempo, numa daquelas
viagens complicadíssimas a sítios privados do anjo Lúcifer. Sim a terra do rei
dos demónios, um anjo caído em desgraça, onde rastejava incólume um mero clone
do velho corcunda, numa ‘supositória’ desgraça.
E Deus? Nunca consegui entrar nesse tão propalado paraíso. Talvez seja
na montanha, naqueles dias em que as nuvens tapam o topo, majestoso em dias de
Céu azul, que haja um portal descodificado para se poder lá entrar. Mas como
interrompem o trânsito a meio da subida, nunca se chega a saber com o que
verdadeiramente lá habita. E as vezes que tentei lá entrar? Descobrir se há
algum mistério divino por desvendar.
Ainda assim é dos beijos de Flor que sinto mais falta, da sua
fogosidade carnal que me dá tantas ganas de continuar vivo, sem medo das
transições alucinadas entre mundo que apenas têm o lado negro em comum.
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