Há mitos que permanecem na
penumbra, ganhando outra dimensão e tornam-se uma coisa disforme com o tempo.
Desde o primeiro homem que os há e a desculpa mais fácil para não se detectar
algo superlativo é invocar o amor a Deus, não como algo profundo mas antes com
alguma pureza advinda da vontade de não ser chateado.
Os mitos, conhecidos ou não, são
ameaças de profunda decepção, fantasmas que pairam sobre um mais que provável
fracasso. Enquanto isso e dentro do círculo formado por mitos das mais variadas
formas, as cidades do amor desenvolvem-se como se fossem glóbulos brancos a
lutarem contra as infecções instaladas e ganham, sem aditivos, conseguindo uma
vitória estrondosa sobre o não, a negativa sensação de fim apesar da esperança,
como se tudo tivesse de funcionar como uma fatalidade. Banalidade que Arturo
foi tentando aniquilar, sem que tivesse de lutar por qualquer tipo de
perfeição, apenas afastar o cancro, purificando o possível.
O mito do Bem e do Mal, era parte
de uma espécie de museu de cera, repleto de fósforos acesos, temperatura sempre
em crescendo. E acreditar em milagres, como se avida fosse um bem assim tão
precioso quando prolongado mais que o necessário.
Os mitos, os anjos e os demónios,
ou todos num só, ou ainda personalidades dúbias que apanham toda a vivência
terrestre, sem sequer admitir que a alma pode ser inviolável. Mas os
peregrinos, já loucos de tanta guerra, solidão e sobretudo apatia, apenas
mantinham invioláveis as forças místicas para além da ridícula força humana.
Era assim que se continham as ameaças que pairam, antes do colapso dos órgãos
internos e da explosão, literal, da cabeça.
Para descontrair uma cerveja no
Bar El Ídolo, atendido por uma excluída compulsiva dos 72, amiga intimíssima da
humanidade latente em Arturo.
Renascido, manteve o desejo em
níveis competitivos não pensando na readaptação às velhas memórias.
Enterrada a sua fraca insistência
de idealizar o impossível atendia os mitos acumulados em forma de orgasmo em
Flor, como se o mundo fosse a mais pobre das civilizações universais sem esse
doce pecado que afastava compulsivamente as verdadeiras ameaças.
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