sexta-feira, 25 de maio de 2012

142 breve história


Enquanto o desejo condicionava a atenção necessária, as fronteiras entre mundos esbatiam-se. Do natural nada vieram sons do mais estranho que se possa imaginar. Eugene Chadburn dava um concerto num estádio de futebol, repleto de assistência em delírio silencioso. Era importante captar o sentido posto naquela aparente anarquia de sons. Junto a si, num palco repleto de balões cheios de água com os quais seviciava a guitarra, o povo delirava, em absoluta imobilidade, pedindo por telepatia a presença de John Zorn para compor o devido ramalhete sónico. Era de tal forma experimental que, depois, o próprio se esquecia como imitar. Era neste ponto fundamental que os peregrinos agiam, a memória da liberdade mantinha-se, gravando o improviso, sem as preocupações com a possível conotação negativa dos menos entendidos.

Num breve instante de desencontros de horários, ou, ainda, de dessincronização entre o que se deve fazer, pela posição do ser humano e o que o coração manda fazer.

Assim, sem mais nem menos, outros génios assaltavam a indiferença das pessoas, inflacionando o ego de quem se aproximava do seu sentido espácio-temporal. Fosse em salas escuras com meia-dúzia de lunáticos privilegiados ou em espaços abertos à multidão anestesiada, tipos como Mozart ou Vivaldi passavam a alma das suas partituras para o corpo de compositores obscuros que iluminavam o mundo destruindo iluminatis.

Na breve história da humanidade finalmente havia tempo para ofuscar a opressão, a opressão, a ignorância em que eram mantidas as pessoas, subjugadas a gostos escravizantes, aniquiladas no mais básico amor-próprio.

As mãos de António Pinho-Vargas, juntavam-se às de Jimi Hendrix e a estranha junção de sons afastava os demónios das constelações mais próximas do Planeta Terra.

As mãos de Picasso juntavam-se ao piano embriagado de Tom Waits e as notas de destruição, ciclicamente revistas, foram destroçadas.

A cura para os males da humanidade já não eram apenas exclusivo dos grandes senhores da finança americana. O cancro e as suas metástases estavam bem identificados e seria Arturo quem, no meio, exactamente no meio do hino do Burkina Faso soltaria o grito dilacerante que afastaria de vez a falta de compreensão das pessoas em relação aos males infligidos por alguns para desproveito de quase todos.

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