E se não houvesse mais nada senão
silêncio? A possibilidade de desbravar montanhas apenas para fugir aos cantos
podres de pessoas de mal com a vida. Apenas viver sem ter medo de uma qualquer
bala no coração ou sequer pensar que a floresta negra sem clareiras que é a
‘alma’ se iluminaria com a morte física.
No meio das sombras, o silêncio
abrandaria as pulsões demoníacas que uma revelação poderia desnudar. A proposta
irrecusável era a fuga. Fugir de quê? A liberdade era superior às fugas.
Fugindo, a liberdade ficava fora de alcance e assim abreviava-se o fim de tudo,
sina cíclica a que já ninguém dava importância. Quer dizer, Arturo buscava tudo
o que eram contradições e conseguia ver no meio da multidão a única saída
possível. A Morte. Via-a em cada recanto, já não conseguia escapar ao seu
cheiro intenso, cheio do nada que se preenchia quase sempre com dor.
Andava perdido no meio de uma
cidade qualquer, sem conhecer nomes, sem desbravar qualquer profecia que desse
algum sentido à existência. Todos se pareciam com A Morte, mesmo os
recém-nascidos, era uma espécie de epidemia.
As ruas estavam prostituídas da
dor individual dos que satisfaziam alguns, que sempre se julgavam acima da mera
vontade de viver uma vida normal. O sangue parara de correr nas veias.
A Morte em si andava por ali,
aborrecida, ceifando almas ao desbarato, dominando novos conceitos que desde
sempre foram alheios à sua essência. E Arturo olhava para a frente e sentia o
amor como um ente perdido, o desenvolvimento das espécies como uma maldade do
ente Criador.
E nada lhe escapava pela
eternidade, mesmo as ruas e as almas por aí esquecidas depois de guerras
implacáveis e sobretudo os sonhos utópicos.
Como há muito tempo não fazia,
fechou os olhos, esperando uma vida sem viagens aos confins do Universo ou os
Apocalipses em versão distinta da Bíblia cristã. Quando os reabriu estava dentro
de um carro, uma mulher olhava-o com ternura e atrás um miúdo cantava algo
ininteligível.
Quando desviou o olhar viu um
rosto desfigurado, sorrindo e dizendo coisas sem nexo, terna, demasiado terna.
Em frente, um emaranhado de curvas e contra-curvas e a velocidade ia
aumentando.
- Cecília é o meu nome. Estamos
juntos há tanto tempo e agora vens-me com essas perguntas?
E vomitava um grito lancinante,
passando de repente para a parte de trás do carro enquanto o miúdo angélico
mostrava os seus dentes podres
- Sou A Morte!
Ahahahahahahahahahahahahahaha!!!!!!
E de repente entravam Atlântico
adentro. Tudo terminava de repente, até as sombras.
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