quarta-feira, 23 de maio de 2012

138 na escuridão dos quartos


Fora dos sonhos, dimensões paralelas e angústias de seres que tinham algo em comum, vivia fechado num casulo. Algo parecido com a escuridão dos quartos enfiados em pequenas celas onde se encavalitavam as tormentas de cada um, até as que eram confundidas com um Oásis e respectivas fantasias idílicas.
O Universo tinha brechas onde se pensava existir um fim e afinal o fim apenas era as limitações do corpo perante mentes limitadas ao óbvio, ao desejo de caminhar por uma vida segura, por vezes polvilhada de loucura, porém claramente virada para o cíclico encolher de ombros que caracterizava os fanáticos sem fé em si próprios.

O silêncio tomava conta de todos os desejos, como se fosse uma guerra pronta a destruir vontades, condenando os seres à vampírica condição de eterna dor. Ainda assim e numa secreta esperança de uma mudança radical, contemplavam-se os fins repletos de poéticas vontades, talvez para fazer esquecer a miséria galopante.

Na escuridão dos sentidos haviam balas que se cruzavam num bailado agressivo de quase morte. Havia então que fintar a morte, não perfurando a carne para não ter que abraçar o vácuo da existência, sem anuência ou vontade própria. Muitos dos seres que mereciam uma segunda oportunidade viviam assim num esconderijo de abutres, sempre à esperas dos despojos de fins sem glória.

A sublime vontade de Deus deixara de lhe interessar. Olhava em frente, desafiando os seus meios de aparente invencibilidade, sendo observado ao longe pelo clone do pai de todos os Males, Hades ‘himself’, embutido sem salvação num gélido Inferno sem chamas.

Apenas era necessária uma qualquer desavença, o desabrochar de uma qualquer revolta em estado embrionário para que do clone de Hades nascessem clones de todos os demónios já exterminados. Mas o medo não era uma opção, os inimigos estavam bem definidos, as tentações bem identificadas.

Acordou num deserto em plena hora de calor, longe sequer de conseguir voar dali para fora. Preso pela própria consciência, enquanto o que parecia um castigo ia tomando forma.

Não voava, mas os pés mantinham a firmeza necessária e pôs-se a caminho até encontrar de novo a fonte que o fazia viver, a montanha por onde passava de uma dimensão para a outra. O melhor de tudo era sempre Flor, que sempre o fazia sentir-se Homem.

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