A cabeça latejou até ao último
instante. Mais do que uma dor, um absurdo silêncio que ninguém entendia, porque
era ensurdecedor.
As pessoas tendem a fugir das
complicadas teias de quem foge à ideia de normalidade que lhes enfiaram na
cabeça.
A cabeça teve de rebentar e foi
um dia de muita chuva, um calor insuportável, uma humidade propícia a infecções
sazonais cada vez mais intensas. Teria sido melhor o verdadeiro fim do mundo,
por mais associal que pudesse parecer. Rebentou e provocou apenas estragos
nele, que ficou irreconhecível perante a importância que teve para com o mundo,
que nunca reconheceu essa história de passar entre dimensões. Paralela só a rua
onde havia uma bica divinal, de alguém que vivia feliz na solidão de muitas
flores, pardais que lhe iam comer à mão sem que lhes pudesse tocar. Nada mais
podia parecer perto da felicidade.
E no mais sepulcral dos silêncios
entoou-se um instrumental que evocava guerras de ninguém. Era o tempo certo
para espantar os assombros de uma antiguidade não muito distante.
Quase no fim e as pessoas que
viviam no quarto das cortinas vermelhas eram frequentemente incomodadas por vizinhos
insatisfeitos do barulho excitatório. Apenas o fim sem que o mundo passasse a
ser um jardim encantado onde Flor e todos os peregrinos dançassem até que o
rabo passasse a ter vontade própria e se movesse ao som de qualquer coisa
quente no ritmo e suas consequências hormonais.
As guerras voltavam a ser a sina
de alguém e os humanos passavam de novo a destruir o planeta que os acolhia.
Adiara-se o inevitável, por via do delírio.
As pessoas iam passando enquanto
na sala quase negra de atitude o fantasma pairava sobre o corpo massacrado de
tanta viagem inter-dimensional.
Era apenas uma forma diferente de
buscar os objectivos, cumprir sonhos malditos e alinhavar aquelas desgraças
anunciadas que quase sempre eram um bluff, nem sempre tão misterioso como a doentia
mania da exclusividade que alguns tinham.
Lembrou-se que tinha mais
liberdade que antes, que as alucinações e a aparente falta de sentido das
coisas eram apenas a normalidade do seu dia-a-dia. Não havia fórmula matemática
que pudesse resolver essa questão. Os olhos recebiam sempre os estímulos
necessários para agir em conformidade com a salvação do mundo quando voltasse a
ser necessário. Deixara de se preocupar com as aparências ou com o que pudessem
pensar das suas excentricidades.
FIM.
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