sábado, 26 de maio de 2012

150 flores de devastado amor


A cabeça latejou até ao último instante. Mais do que uma dor, um absurdo silêncio que ninguém entendia, porque era ensurdecedor.

As pessoas tendem a fugir das complicadas teias de quem foge à ideia de normalidade que lhes enfiaram na cabeça.

A cabeça teve de rebentar e foi um dia de muita chuva, um calor insuportável, uma humidade propícia a infecções sazonais cada vez mais intensas. Teria sido melhor o verdadeiro fim do mundo, por mais associal que pudesse parecer. Rebentou e provocou apenas estragos nele, que ficou irreconhecível perante a importância que teve para com o mundo, que nunca reconheceu essa história de passar entre dimensões. Paralela só a rua onde havia uma bica divinal, de alguém que vivia feliz na solidão de muitas flores, pardais que lhe iam comer à mão sem que lhes pudesse tocar. Nada mais podia parecer perto da felicidade.

E no mais sepulcral dos silêncios entoou-se um instrumental que evocava guerras de ninguém. Era o tempo certo para espantar os assombros de uma antiguidade não muito distante.

Quase no fim e as pessoas que viviam no quarto das cortinas vermelhas eram frequentemente incomodadas por vizinhos insatisfeitos do barulho excitatório. Apenas o fim sem que o mundo passasse a ser um jardim encantado onde Flor e todos os peregrinos dançassem até que o rabo passasse a ter vontade própria e se movesse ao som de qualquer coisa quente no ritmo e suas consequências hormonais.

As guerras voltavam a ser a sina de alguém e os humanos passavam de novo a destruir o planeta que os acolhia. Adiara-se o inevitável, por via do delírio.

As pessoas iam passando enquanto na sala quase negra de atitude o fantasma pairava sobre o corpo massacrado de tanta viagem inter-dimensional.

Era apenas uma forma diferente de buscar os objectivos, cumprir sonhos malditos e alinhavar aquelas desgraças anunciadas que quase sempre eram um bluff, nem sempre tão misterioso como a doentia mania da exclusividade que alguns tinham.

Lembrou-se que tinha mais liberdade que antes, que as alucinações e a aparente falta de sentido das coisas eram apenas a normalidade do seu dia-a-dia. Não havia fórmula matemática que pudesse resolver essa questão. Os olhos recebiam sempre os estímulos necessários para agir em conformidade com a salvação do mundo quando voltasse a ser necessário. Deixara de se preocupar com as aparências ou com o que pudessem pensar das suas excentricidades.


FIM.

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