Os autómatos telecomandados
devolveram-lhe a dignidade apesar de o castigarem segundo leis inventadas que
forçavam o fim da imaginação.
Nas memórias infames das
primeiras frustrações via-se ameaçado de despedimento. Saía a tempo da morte
certa e num café, sem açúcar, estava sempre o mesmo amigo que lhe dizia: ‘és
diferente!’.
Apenas pensava em mulheres,
sempre uma daquelas imensas frustrações que o menosprezavam, logo nunca se
apaixonariam por ele. Apenas sentia ódio e contagiava-as recusando-se a receber
a devida paz de espírito.
‘- De onde venho? Que fique bem
claro que a vida tem o valor de um monte de merda, enquanto cheira incomoda!’
Sentia todos os locais a
desolação em si, usando a depressão de paixões não correspondidas para definir
os circundantes, iguais na sua pequenez, nus, frios e permanentemente limpos da
culpa latente.
Uns sons estranhos vinham lá de
cima do Sol posto. Um micro-transmissor enviava mensagens encriptadas aos
vermes, os que invejavam a sua própria sombra chamando a atenção por uma reles
posição.
E a Morte? Não era em si uma
posição marxista? Que podiam eles saber disso.
Seguia pelo passeio de uma
avenida qualquer, vendo outra mulher, de um passado recente, de cabelos
compridos e outro tipo de trança, ainda mais ridícula. Quase que tropeçava na
merda, ainda fresca de um cão alegremente submisso a uma dona tristemente
submissa.
Enfrascava-se em cafés, ficando
sempre no mesmo canto da sala de convívio, onde podia procurar por ela e saciar
a frustração de não a poder foder nunca.
A vida que se lhe deparava
sentia-a como um enterro, vendo incessantes lamúrias que apenas levariam ao
certo enclausuramento do ser que ceifasse esse sufoco. Boas notícias no centro
de uma ideia que não agradava nem a gregos nem a troianos.
Sentia-se algo mais que uma
emissão mono. Sim sentia-se alta-fidelidade e repleto de interferência, carne
cada vez mais apetecível quanto melhor fosse a substância cerebral.
Mesmo com a ausência da mulher
que o fazia voar, a loucura instalava-se, a paixão fazia esquecer todas as
tormentas inimagináveis. Pensava em como seria bom viver dos corpos, usados
pelo prazer, satisfazendo a infinita solidão das almas, apenas um desejo
indomável de escapar à lama e aos eternos ódios latentes.
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