domingo, 20 de maio de 2012

136 vésperas de desamor


Os autómatos telecomandados devolveram-lhe a dignidade apesar de o castigarem segundo leis inventadas que forçavam o fim da imaginação.

Nas memórias infames das primeiras frustrações via-se ameaçado de despedimento. Saía a tempo da morte certa e num café, sem açúcar, estava sempre o mesmo amigo que lhe dizia: ‘és diferente!’.

Apenas pensava em mulheres, sempre uma daquelas imensas frustrações que o menosprezavam, logo nunca se apaixonariam por ele. Apenas sentia ódio e contagiava-as recusando-se a receber a devida paz de espírito.

‘- De onde venho? Que fique bem claro que a vida tem o valor de um monte de merda, enquanto cheira incomoda!’

Sentia todos os locais a desolação em si, usando a depressão de paixões não correspondidas para definir os circundantes, iguais na sua pequenez, nus, frios e permanentemente limpos da culpa latente.

Uns sons estranhos vinham lá de cima do Sol posto. Um micro-transmissor enviava mensagens encriptadas aos vermes, os que invejavam a sua própria sombra chamando a atenção por uma reles posição.

E a Morte? Não era em si uma posição marxista? Que podiam eles saber disso.

Seguia pelo passeio de uma avenida qualquer, vendo outra mulher, de um passado recente, de cabelos compridos e outro tipo de trança, ainda mais ridícula. Quase que tropeçava na merda, ainda fresca de um cão alegremente submisso a uma dona tristemente submissa.

Enfrascava-se em cafés, ficando sempre no mesmo canto da sala de convívio, onde podia procurar por ela e saciar a frustração de não a poder foder nunca.

A vida que se lhe deparava sentia-a como um enterro, vendo incessantes lamúrias que apenas levariam ao certo enclausuramento do ser que ceifasse esse sufoco. Boas notícias no centro de uma ideia que não agradava nem a gregos nem a troianos.

Sentia-se algo mais que uma emissão mono. Sim sentia-se alta-fidelidade e repleto de interferência, carne cada vez mais apetecível quanto melhor fosse a substância cerebral.

Mesmo com a ausência da mulher que o fazia voar, a loucura instalava-se, a paixão fazia esquecer todas as tormentas inimagináveis. Pensava em como seria bom viver dos corpos, usados pelo prazer, satisfazendo a infinita solidão das almas, apenas um desejo indomável de escapar à lama e aos eternos ódios latentes.

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