sábado, 26 de maio de 2012

147 madrugadas de ciúme


No dia da grande mudança deu-se uma crise violentíssima de ciúmes entre Arturo e Flor. Não era negócio de Deus ou artimanha de Lúcifer, apenas a estúpida sensação de andar com um valente par de cornos entre Universos. Foi assim que se provocou a fractura decisiva entre génios especiais que se amavam até à morte se fosse necessário. Só que nessa noite não houve desejo, apenas a explosão a que nunca se deu a devida atenção apesar dos sinais. Dir-se-ia que felizmente amuaram e que nenhum dos outros 70 teve parte activa na convulsão irreversível que encostou os princípios adquiridos e consolidados ao longo de séculos, a um abismo em que piranhas ávidas de destruição, esperavam pela sucinta estupidez dos que iam ser aniquilados.

Flor assoberbou-se no auge da madrugada, as lágrimas que verteu eram de fúria pura e os maremotos sucederam-se, as vagas gigantes irromperam imponentes no Pacífico, enquanto Arturo pagava a sua louca crise de ciúmes abrindo crateras onde caía consecutivamente até um dos Infernos onde amiúde ia. A busca pela ansiedade serenidade ficaria para os dias mais alegres, era antes tempo de definir o que mais interessava e isso implicava uma antipatia que desesperava quem necessitava de resultados a modos que instantâneos.

A convulsão deu-se às 3 da madrugada. Os deuses sem imortalidade e os demónios sem maldição foram sendo engolidos pela sua própria insignificância. Os silêncios deixavam de ser ensurdecedores e os autos-de-fé sucessivos iam apagando o desgosto crescente da Mãe Natureza, assim feminina, personificada em Flor.

Evaporara-se a existência sem alarido de muitos zombies com uma ventania de ar sujo nas suas cabeças mais ou menos bonitas. A merda das aparências, do fluxo de alarvidades tidos como coisa normal, fora-se. Se era em definitivo, é provável que não, que o simples facto de se ser humano era sempre um potencial atentado àquilo que o rodeia, seja fundado ou não, seja pelos malditos ciúmes ou apenas pela sempre normal inveja do sucesso alheio.

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