A contemplação e desorganização
nos processos externos de limpeza mental das pessoas teve o seu fim num dia em
que Arturo e Flor se haviam deliciado com o mais violento dos orgasmos dela.
Arturo fartara-se de tanta
idiotice pegada, de perder tempo com filosofias bacocas e de querer converter à
força gente com sangue de barata a correr nas veias. Pelo menos as baratas eram
evidentemente nojentas e convergiam para o sítio mais quente onde se
reproduziam á vontade, a salvo da radiação nuclear, enquanto os humanos se
digladiavam alegremente por um pedaço de merda mal-cheirosa vendida como a mais
preciosa das virtudes. As pessoas não perdiam o egoísmo ou sequer se esforçavam
para tentar entender os sinais da desgraça que eram as suas vidas de autómatos
vendidos a um capital infectado com a mais moderna das tecnologias sujas
inventada por um qualquer cientista cheio de boa vontade.
Dessem ao pessoal um maço de
notas reluzentes que nem a alma mais empedernida escaparia à obediência
necessária, ao silêncio perante o holocausto perpetrado pelos verdadeiros e
invisíveis assassinos que urgia exterminar de vez.
Por ser giro os 72 decidiram
materializar-se, tornando-se visíveis a todos. Chegara o tempo da provocação
desenfreada, de se acicatarem os ódios e desvairar quem não saísse da apatia
generalizada. Aos peregrinos adultos era-lhes essencial estar devidamente
saciados de sexo repleto de prazer, para que depois levassem a bom porto a
missão sanguinária que lhes estava destinada.
Arturo estava coberto por um fato
e gravata de fino corte e vestia os olhos com uns óculos escuros de marca
internacionalmente reconhecida. Não se esforçava para ser simpático, apenas
natural fosse isso o que fosse causar aos sentidos dos outros. A missão da
simpatia caberia aos peregrinos menores, os adultos já não eram capazes de
esconder o desprezo pelos que regiam a sua vida pelas ervas daninhas da
mentira.
Um dia deu-se o normal
impensável. No meio de um discurso à nação, um primeiro-ministro, todo-poderoso,
gozão, biltre e cagando farta merda para as necessidades mais básicas da
população, foi degolado em directo na emissão televisiva a ele destinada. E a
música do ‘Biltre’ apareceu, propositadamente cabotina, jingona e com dons de
pôr a malta a dançar. O sangue do estadista cagão subiu e os demónios engoliram-no
sendo atirados para as portas do paraíso com a finalidade de provocar a Ira,
pecado mortal do omnipotente quando algo o irritava, por achar que não estava
em harmonia com o mundo que criara.
Ficaram todos especados a ver a
cena dantesca, enquanto sorviam uma imperial fresca, vendo cair um por um todos
aqueles que desdenhavam o presente sem medo, das palavras e do degredo onde até
se podia construir uma nova vida.
A terra começou a tremer e ninguém
se sentiu bem.
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