quinta-feira, 17 de maio de 2012

132 coisas da paixão


A contemplação e desorganização nos processos externos de limpeza mental das pessoas teve o seu fim num dia em que Arturo e Flor se haviam deliciado com o mais violento dos orgasmos dela.

Arturo fartara-se de tanta idiotice pegada, de perder tempo com filosofias bacocas e de querer converter à força gente com sangue de barata a correr nas veias. Pelo menos as baratas eram evidentemente nojentas e convergiam para o sítio mais quente onde se reproduziam á vontade, a salvo da radiação nuclear, enquanto os humanos se digladiavam alegremente por um pedaço de merda mal-cheirosa vendida como a mais preciosa das virtudes. As pessoas não perdiam o egoísmo ou sequer se esforçavam para tentar entender os sinais da desgraça que eram as suas vidas de autómatos vendidos a um capital infectado com a mais moderna das tecnologias sujas inventada por um qualquer cientista cheio de boa vontade.

Dessem ao pessoal um maço de notas reluzentes que nem a alma mais empedernida escaparia à obediência necessária, ao silêncio perante o holocausto perpetrado pelos verdadeiros e invisíveis assassinos que urgia exterminar de vez.

Por ser giro os 72 decidiram materializar-se, tornando-se visíveis a todos. Chegara o tempo da provocação desenfreada, de se acicatarem os ódios e desvairar quem não saísse da apatia generalizada. Aos peregrinos adultos era-lhes essencial estar devidamente saciados de sexo repleto de prazer, para que depois levassem a bom porto a missão sanguinária que lhes estava destinada.

Arturo estava coberto por um fato e gravata de fino corte e vestia os olhos com uns óculos escuros de marca internacionalmente reconhecida. Não se esforçava para ser simpático, apenas natural fosse isso o que fosse causar aos sentidos dos outros. A missão da simpatia caberia aos peregrinos menores, os adultos já não eram capazes de esconder o desprezo pelos que regiam a sua vida pelas ervas daninhas da mentira.

Um dia deu-se o normal impensável. No meio de um discurso à nação, um primeiro-ministro, todo-poderoso, gozão, biltre e cagando farta merda para as necessidades mais básicas da população, foi degolado em directo na emissão televisiva a ele destinada. E a música do ‘Biltre’ apareceu, propositadamente cabotina, jingona e com dons de pôr a malta a dançar. O sangue do estadista cagão subiu e os demónios engoliram-no sendo atirados para as portas do paraíso com a finalidade de provocar a Ira, pecado mortal do omnipotente quando algo o irritava, por achar que não estava em harmonia com o mundo que criara.

Ficaram todos especados a ver a cena dantesca, enquanto sorviam uma imperial fresca, vendo cair um por um todos aqueles que desdenhavam o presente sem medo, das palavras e do degredo onde até se podia construir uma nova vida.

A terra começou a tremer e ninguém se sentiu bem.

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