quarta-feira, 23 de maio de 2012

139 a aridez de tudo


Não houve desavenças. Arturo tornara-se inalcançável, apesar de ser visível para todos. Alvo de ódios letais tinha a secreta admiração daqueles que lutavam contra os estranhos desígnios a que eram votados. Voltou a um deserto de memórias, intenso, apesar da aridez de tudo. Concreto apesar do vazio que preenchia a terra morta a perder de vista.

Havia algum tempo que os 72 não se reuniam. O elo, sem se ter quebrado, tornara-os livres das amarras do auto-proclamado chefe. Alimentavam o ego das conquistas onde antes apenas existia uma infinita aridez de ideias.

Podia nem acrescentar nada mais ao supremo objectivo da in dependência mental. O afastamento era necessário, sob pena de, não o fazendo, se corromperem ideais.

O deserto nem era mais uma intensa planície a perder de vista, apenas um objectivo que, tantas vezes sonhado, parecia proibitivo. Apenas pedia aos santinhos todos para não voltar nunca mais.

Ainda o deserto, as estúpidas notícias embrulhadas numa corda que apenas combinava apertada contra a pele do pescoço, até à morte. Pura desilusão que o afastava cada vez mais de uma situação em que um mero olhar continha todos os sonhos de um ser. Às vezes, mesmo cego sentia melhor as coisas que o destroçado ser que buscava nas infinitas cores um sentido para o desejo.

Ainda no deserto as ideias escaldavam de nada, as fronteiras esbatiam-se por nada, o vazio era realmente composto por nada. Como nem todos tinham essa persistência na busca da felicidade, o nada prevalecia no todo de muitas existências.

Arturo podia fazer o que quisesse para mudar aquele estado de coisas. Se era ou não uma ilusão já não lhe interessava, como a tanta gente que passava por entre espaços que se tornavam corrompidos, dignos da pena mais mesquinha que atravessava as existências dos que haviam alcançado o que queriam, sem aspirar ao mero pensamento dos outros a quem a partir desse momento passariam a pisar sem o mais pequeno problema.

Arturo levantou-se, gritou e fê-lo tão alto e com tanta energia negativa a soltar-se que já nem se lembrava mais quem era. Como consequência levantou-se a maior tempestade de areia de todos os tempos. Lá do Céu apenas o negro das forças do mal a prevalecer e as tropas em sentido para um ataque eminente. Lá de baixo sentia-se a aproximação do inimigo final e era hora de libertar todos os venenos suspensos.

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