Não houve desavenças. Arturo
tornara-se inalcançável, apesar de ser visível para todos. Alvo de ódios letais
tinha a secreta admiração daqueles que lutavam contra os estranhos desígnios a
que eram votados. Voltou a um deserto de memórias, intenso, apesar da aridez de
tudo. Concreto apesar do vazio que preenchia a terra morta a perder de vista.
Havia algum tempo que os 72 não
se reuniam. O elo, sem se ter quebrado, tornara-os livres das amarras do
auto-proclamado chefe. Alimentavam o ego das conquistas onde antes apenas
existia uma infinita aridez de ideias.
Podia nem acrescentar nada mais
ao supremo objectivo da in dependência mental. O afastamento era necessário,
sob pena de, não o fazendo, se corromperem ideais.
O deserto nem era mais uma
intensa planície a perder de vista, apenas um objectivo que, tantas vezes
sonhado, parecia proibitivo. Apenas pedia aos santinhos todos para não voltar
nunca mais.
Ainda o deserto, as estúpidas
notícias embrulhadas numa corda que apenas combinava apertada contra a pele do
pescoço, até à morte. Pura desilusão que o afastava cada vez mais de uma
situação em que um mero olhar continha todos os sonhos de um ser. Às vezes,
mesmo cego sentia melhor as coisas que o destroçado ser que buscava nas
infinitas cores um sentido para o desejo.
Ainda no deserto as ideias
escaldavam de nada, as fronteiras esbatiam-se por nada, o vazio era realmente
composto por nada. Como nem todos tinham essa persistência na busca da
felicidade, o nada prevalecia no todo de muitas existências.
Arturo podia fazer o que quisesse
para mudar aquele estado de coisas. Se era ou não uma ilusão já não lhe
interessava, como a tanta gente que passava por entre espaços que se tornavam
corrompidos, dignos da pena mais mesquinha que atravessava as existências dos
que haviam alcançado o que queriam, sem aspirar ao mero pensamento dos outros a
quem a partir desse momento passariam a pisar sem o mais pequeno problema.
Arturo levantou-se, gritou e
fê-lo tão alto e com tanta energia negativa a soltar-se que já nem se lembrava
mais quem era. Como consequência levantou-se a maior tempestade de areia de
todos os tempos. Lá do Céu apenas o negro das forças do mal a prevalecer e as
tropas em sentido para um ataque eminente. Lá de baixo sentia-se a aproximação
do inimigo final e era hora de libertar todos os venenos suspensos.
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