quinta-feira, 17 de maio de 2012

133 a dureza dos caminhos


Uma nova ordem nascera no caos provocado pela destruição dos pecados inúteis. Não que fosse positivo abençoar os escombros de uma antiga doença, mas a paz que se instalara dava outro ânimo para que o novo mundo pudesse florescer correctamente.

A guerra, porém, estava longe de terminar, apesar da inexpugnável fortaleza dos peregrinos que lhes permitia seguir sempre rumo ao seu destino. Era evidente que a Ira solta do Paraíso ainda traria muito sofrimento a alguns supostos inocentes.

Os caminhos, outrora apenas minados pelos demónios de Lúcifer, eram de uma dureza implacável, plenos de incerteza quanto ao próximo passo a dar. Muitos morreram estilhaçados pelas más escolhas, outros deceparam a cruz que os atolava pelos caminhos ínvios, nem do Senhor nem da Dor, de amores não correspondidos.

Os Peregrinos foram considerados a seita mais perigosa, o alvo preciso a abater para reequilibrar as contas dum rosário em que Bem e Mal apenas serviam para angustiar.

A missão mais dura que se seguiria era a de fazer desaparecer o dinheiro. Se queriam poder, ele teria de ser conquistado pela mente e pelos desejos concretos de viver num mundo em que a liberdade era ponto assente para quem quisesse celebrar a vida.

A contenda correu mal, não conseguiram acabar com o dinheiro e muito menos com as influências apocalípticas que este permitia fazer florescer.

Algures no Reino do Pipocalipse alguém preparava uma nova investida para mudar as mentes absortas nas próximas férias. Tudo começou com uma estranha chuva de pipocas doces.

Ao início todos estavam felizes, brincando e comendo, na patriótica missão divina de alimentar o próximo, mesmo que não tivesse acesso ao caminho doce da vida. Era patético ver as pessoas a açambarcarem pipocas tornando-a bem exclusivo e vendendo-as aos mais distraídos. Como era lógico, num tempo de profunda convulsão, o degredo pelo Inferno era o seu destino, permanecendo em pose estática, de boca aberta, recebendo pipocas até rebentarem, depois morriam e renasciam para sempre na mesma agonia e renovada dor.

Voltavam então a reunir-se. Sabiam que havia coisas que só com muita persistência seriam dominadas.

 O dinheiro voltou a iludir os caminhantes e parecia que, mais do que nunca, as pessoas tomavam a consciência que mais valia ser pequeno de cabeça e ter algum no bolso que embarcar em revoluções de sonhos duvidosos.

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